quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O governo em ditadura de João Franco

O parlamento é encerrado passado três meses de sessão legislativa, conforme o prazo constitucional a pedido de João Franco em 4 de Abril e ainda esse mês passados poucos dias, o chfe do governo foi negociar com José Luciano a participação de ministros Progressistas, no elenco do seu governo, como condição para a reabertura do parlamento.

Fundamentalmente o que João Franco pretendia, era que a presença dos progressistas mais importantes como António Cabral, Manuel Moreira Júnior e o conde de Penha Garcia, no seu governo viesse a acelerar o processo de fusão, num grande Partido Liberal, que naturalmente contaria com Franco para a respectiva liderança.

José Luciano terá percebido a intenção, que aliás já não era nova da parte de Franco, e recusou, embora propondo outros nomes para o elenco governamental, que por sua vez, não colheu o interesse de João Franco.

Mais tarde viria o rei a interferir pessoalmente, escrevendo a José Luciano, no sentido de o fazer entender, que o interesse nacional impunha ,a continuidade dum governo que não poderia cair, segundo sua opinião.

Nesta perspectiva, ao rei não cabiam, muitas alternativas, ou demitia Franco, que repito não queria fazer ou dava-lhe a possibilidade de governar em ditadura, porque com apenas 70 deputados e 12 pares do reino, ficaria à mercê no parlamento de boa vontade dos Progressistas e de José Luciano de o manterem no poder.

A escolha de D.Carlos, foi óbvia proporcionando ao governo condições para governar sem parlamento o que viria a acontecer logo em 10 de Maio de 1907, 8 dias depois da remodelação governamental levada a cabo por João Franco.

A questão era saber até quando se iria manter o governo em ditadura, segundo Franco " até que a situação política ofereça condições para o funcionamento útil e regular das câmaras", mas o que toda a gente percebia é que a duração dessa regime, duraria até que João Franco conseguisse criar o tal partido novo que garantisse uma maioria parlamentar, por alguns anos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Acontecimentos no ano de 1907(I)

*-Lei (contra) de imprensa aprovação no parlamento em 18 e Março de 1907

Para além de pequenas questões que aconteceram nos primeiros meses do ano de 1907, nada comparáveis com a celeuma criada com a questão dos tabacos, a divergência principal entre o governo e a oposição, foi a liberdade de imprensa, reclamada pela imprensa republicana e dissidente-progressista que chegaram mesmo a instituir-se em comité revolucionário com Francisco de Correia Herédia visconde da Ribeira Brava e Alpoim, pelos dissidentes, Afonso Costa e Alexandre Braga, pelos republicanos.

Lei contudo, que não colheu a melhor aprovação e que viria a sofrer mais tarde, embora em condições completamente diferentes, como se verá mais tarde, mas que ficou conhecida desde logo como a lei contra a imprensa.

*-Greve académica de Coimbra

Em Março de 1907 aconteceu a reprovação de um candidato ao doutoramento na Faculdade de Direito de José Eugénio Dias Ferreira (o filho de José Dias Ferreira), que se declarava republicano e dedicara a tese a Teófilo Braga.

Este chumbo, provocou uma forte contestação académica, que alastrou a todas as escolas superiores e até secundárias, quando os principais estudantes contestatários de Coimbra foram presos.Assinale-se que em Março, 400 estudante viajaram de Coimbra até Lisboa, para entregar uma petição no parlamento.

Actos hostis contra os membros do júri e a respectiva reacção do governo, ordenando a suspensão dos trabalhos escolares, provocaram a solidariedade dos professores republicanos e naturalmente à politização duma questão, cujo perfil poderia restringir-se ao âmbito académico.

A preocupação fundamental do rei, era a de evitar o uso da violência sobre os estudantes, mas por outro lado não deixar que o governo perdesse o controle da situação, atendendo a que D.Carlos concordara com todos os procedimentos utilizados.embora procurasse junto de Hintze Ribeiro, acalmar a oposição, lembrando-lhe que este lhe havia dito que poderia contar com ele e que visse em que situação o colocava, pois este governo não pode cair.

A oposição clamava contra o horrível despotismo do governo, que inundava de sangue dos estudantes as ruas de Coimbra.

Era pois bem tensa (como sempre) a situação política no final do mês de Maio de 1907.






quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

João Franco e os adiantamentos à Casa Real

A reabertura do parlamento aconteceu em 29 de Novembro de 1906, com uma torrente de propostas de lei, algumas naturalmente tendentes à criação dum clima favorável, na opinião pública, como os aumentos da função pública e do exército.

Tal como alguns vaticinavam , os ataques no parlamento foram de tal violência, que o envolvimento de João Franco nas Cortes, praticamente lhe não deixavam tempo para a governação.

O objectivo de João Franco era criar uma atmosfera propícia ao reformismo, como Franco dizia "O meu desejo é que o meu país acredite em mim para eu poder fazer aquilo que me julgo capaz de fazer".

Em Novembro porém a discussão parlamentar, agudizou-se ainda mais, quando se levantou a questão de que haveriam contas por saldar entre o Tesouro e a Casa Real. Adiantamentos à casa real que o próprio João Franco acabou por admitir, afirmando que o governo há-de dar conta ao parlamento. Confirmando afinal o que Dantas Baracho na Câmara dos Pares, havia dito uns dias antes, apresentando nota discriminada, dos adiantamentos feitos à Casa Real.

Sobre esses adiantamentos, na sessão de 20 de Novembro de 1906, Afonso Costa disse: Por menos do que fez o Sr. D. Carlos. Rolou no cadafalso a cabeça de Luís XIV e que pelo menos o Rei devería ter a honestidade e honradez de pagar à nação o que indevidamente desviou dos cofres públicos.

Por estas declarações Afonso Costa e Alexandre Braga estiveram presos, o que motivou imensas manifestações e comícios republicanos de propaganda, por todo o lado, mas o certo é que só regressaram ao Parlamento em 21 de Dezembro, por força dum abaixo-assinado subscrito por 45 000 pessoas, que terá contribuído para isso.

Pela primeira vez, um chefe de governo admitia a verdade, do que circulava por todo o lado, pelo menos desde 1903, que do deficit público de 8000 contos, metade fora a Casa real que o gastara.

A atitude de João Franco, de frontalidade face a esta questão, enquadrava-se perfeitamente, nos objectivos gerais da política que anunciava, assente em duas palavras austeridade e honestidade. Austeridade que pretendia acontecesse em todas as instituições públicas e na família Real, por tudo isto preferiu admitir o que se passava, em vez de adiar explicações ou encobri-las, como até aí tinha sido feita.

A oposição monárquica, claro que aproveitou para o atacar, como fez Hintze Ribeiro que acusava Franco de sacrificar o Rei à sua própria popularidade.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O processo eleitoral de 19 de Agosto



A 5 de Junho de 1906, o Conselho de Estado vota dissolução da Câmara dos Deputados, enquanto o governo iniciava o seu processo de "liberalização", amnistiando os crimes de abuso de liberdade de imprensa, cortando todos as gratificações ou remunerações que não tivessem cobertura legal, implicando o despedimento dos tarefeiros da função pública.


João Franco assina finalmente o decreto de concessão do monopólio dos tabacos, ao mesmo tempo que iniciava a campanha de esclarecimento, para as eleições marcadas para o dia 19 de Agosto.

Este tipo de actuação, refiro-me aos comícios, com a participação do chefe do governo era uma novidade, como por exemplo um comício efectuado no teatro do Príncipe Real no Porto, onde João Franco terá dito " venho pedir ao corpo eleitoral os seus votos para o governo, porque sem eles, não pode o governo relizar a sua missão", afirmando que a única força em Portugal, não era o Rei, mas a opinião pública.

Tudo isto era uma novidade em Portugal, a forma e a linguagem utilizada pelo chefe do governo João Franco.

A campanha eleitoral, também teve os seus momentos difíceis, nomeadamente em Lisboa, junto do operariado, onde os Republicanos, faziam mais sentir a sua força, como num comício em Alcântara onde aguentou a afronta e as pedradas, proclamando que não queria governar pela força, pois reprimir os manifestantes, era dar trunfos aos Republicanos, cujos dirigentes sempre tentaram dissociar-se dos distúrbios.

Republicanos que, acabaram por reconhecer que as eleições de Agosto, tinham decorrido correctamente sem "chapeladas", nem qualquer tipo de restrições governamentais, que os tenham impedido de eleger deputados.

O resultados das eleições de 19 de Agosto, com vitória dos governamentais, da aliança entre franquistas (70 deputados) e progressistas (43 deputados). 4 deputados republicanos em Lisboa (Afonso Costa, António José de Almeida. Alexandre Braga e João de Meneses) e os regeneradores com 30 deputados e os dissidente de Alpoim apenas com 3 deputados.

O rei estava plenamente satisfeito, por onde passava era acolhido com simpatia, tendo inclusivamente em correspondência na altura trocada com João Franco, referido a sua satisfação para com o que chamava " a nossa obra", que sintetizava na seguinte frase "governar na legalidade com o parlamento"

sábado, 22 de novembro de 2008

Acontecimentos no ano de 1906(III)

* A demissão do governo de Hintze Ribeiro

A demissão apresentada por Hintze Ribeiro a 17 de Maio de 1906, teve com justificação oficial o facto de Ribeiro ter solicitado ao rei o adiamento das cortes, marcadas para o dia 1 de Junho, e que perante a recusa deste em a conceder, terá apresentado a sua demissão.

Porém, aparentemente, algo se passara alguns dias antes, segundo os amigos mais próximos de Hintze, o Rei havia proposto a chefe do executivo um certo entendimento com os republicanos, que não colhera as simpatias de Ribeiro.

A demissão foi aceite por escrito pelo rei, que informava Hintze, que havia escrito a João Franco, para que este lhe viesse falar, uma forma indirecta de lhe comunicar quem seria o seu sucessor.


*-O governo de João Franco

De novo em 19 de Maio, o ei volta a informar Hintze, que João Franco, formara governo cuja formula de constituição fora a de nomeação apenas de ministros franquistas, embora com o programa da Coligação Liberal e o implícito apoio dos Progressistas, que lhe permitira a maioria em ambas as câmaras.

António Carlos Coelho de Vasconcelos Porto, na guerra

Aires de Ornelas e Vasconcelos, na marinha e ultramar.

José Malheiro Reymão, nas obras públicas
José de Abreu Couto Amorim Novais, na justiça

Ernesto Driesel Schroeder, na fazenda
Luís Cipriano de Coelho Magalhães, nos estrangeiros.

João Franco, apresenta o seu programa de governo numa sede do seu partido em Lisboa, o que era inédito em termos de política portuguesa, dizendo
querer governar à inglesa, isto é, com energia, mas dentro do espírito das leis, com mão suave e firme. Proclama até tolerância e liberdade para o país compreender a monarquia.

Programa este, que o próprio rei leria na anunciada abertura do parlamento em 1 de Junho, e que era constituído por um conjunto de promessas de renovação eleitoral, que tenderiam a tornar o processo eleitoral, mais justo e controlado por autoridades judiciais, bem como o regresso ao círculos uninominais.


Medidas de abrandamento face à lei da imprensa e das liberdades individuais parecia configurar um governo de cariz mais liberal e que de certo modo acompanharia o que estava ocorrendo por toda a Europa um envolvimento reformista e mais liberal, como em França com Clemenceau, em Inglaterra com o retorno dos liberais ou na própria Rússia, com o estabelecimento dum governo representativo.


Dum modo geral o programa de João Franco era a congregação de princípios do reformismo liberal, que se propunha agora fossem passados à prática.

Entretanto Hintze Ribeiro regressa ao Crédito Predial como vice-governador, tendo como governador José Luciano, porém Ribeiro já se encontrava nessa altura bastante doente.Tanto assim que a 27 de Maio, João Franco concede a Hintze uma licença de 40 dias para que ele se possa tratar no estrangeiro, Quando ele parte no dia 30 deixa a liderança do partido Regenerador entregue a Pimentel Pinto.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Acontecimentos no ano de 1906(II)

*-O segundo e último governo de Hintze Ribeiro

Em 20 de Março de 1906 Hintze Ribeiro, volta a ser empossado como presidente do conselho de ministros do Reino, cargo que abandonara em Outubro de 1904, motivando o desespero, tanto de José Luciano como de João Franco, mas alegria de outros como Alpoim, que via agora com muito bons olhos o facto de diálogo político e a alternância rotativista, ter segundo ele novos protagonista Hintze e ele próprio.

A continuação da questão dos tabacos e que o rei previra lhe iria cair nas mãos, já que Hintze não se dispusera a deixar passar no parlamento a solução de José Luciano.

Hintze mandara abrir um novo concurso para a adjudicação do monopólio dos tabacos.

Dois factos aconteceram então, que lhe causaram enorme desgosto, a insubordinação, em 8 de Abril, da guarnição do cruzador D. Carlos. Ancorado no Tejo e aproveitando a ausência dos oficiais em terra, a tripulação toma conta do navio, aparentemente porque o comandante impedira que prostitutas pudessem ir a bordo, como era costume.

No dia 13 a revolta da guarnição do couraçado Vasco da Gama, correndo boatos duma conspiração, dizendo-se que fora Alpoim que estava por detrás da pretensão, aliás de vez em quando ventilada, da substituição de D.Carlos pelo príncipe herdeiro D.Luís Filipe.

"Como se valesse a pena em qualquer país monárquico fazer uma conjura para substituir um rei por outro", dizia o visado para se defender.

Este factos da maior gravidade, ocorridos a bordo dos mais poderosos navios da nossa marinha de guerra, que puseram em sobressalto a população de Lisboa, e teve dolorosas consequências e promoveram violentos ataques contra Hintze Ribeiro de toda a imprensa, tanto republicana como monárquica, que fizeram abalar bastante a saúde precária de Ribeiro.

*-A formação da "Coligação Liberal"

No princípio de Abril é anunciada uma coligação entre Progressistas e Franquistas, que começara a desenhar-se quando o partido Progressista, desencadeando o processo de vingança prometido por José Luciano, abre negociações com João Franco, que aceitou, indo contudo ainda mais longe, propondo fusão entre as duas formações.

Um novo Pacto da Granja como oque dera origem em 1876 à própria formação Progressista, resultante da fusão entre Históricos e Reformistas.

Tal porém não foi aceite por Luciano, ficando-se pela simples aliança, que para já iriam reunir forças nas eleições que iriam decorrer a 29 de Abril.

*-Eleições em 29 de Abril de 1906 e as consequências

É nestas circunstâncias que se desenrola a luta eleitoral, onde são imponentes os comícios republicanos, realizados em Lisboa, no dia 22 de Abril. Os governamentais hintzáceos conseguiram uma confortável maioria de 105 deputados contra 17 progressistas lucianistas e 7 franquistas (todos estes eleitos por Lisboa), para além de 9 dissidentes progressistas, 6 nacionalistas, 2 independentes, 1 miguelista.

Os republicanos, apesar de aumentarem a votação urbana, continuaram a não conseguir eleger deputados, em virtude dos grandes círculos plurinominais e da sua não penetração junto do eleitorado rural.

Bernardino Machado, já então republicano, chegou a ser formalmente eleito no Peral(Azambuja), mas renunciou ao mandato, quando se provou ter havido uma enorme chapelada promovida pelo governo, para fingir imparcialidade, com três vezes mais votos que os eleitores inscritos.

Efectivamente, os Republicanos renegaram este favor do governo, insinuando que a chapelada da Azambuja se destinara a impedir a eleição de Afonso Costa, pelo que Bernardino Machado comprometido , resgatou a sua honra, recusando a eleição.

À sua chegada a Lisboa ocorreram enormes manifestações em frente à estação do Rossio, com confrontos com a polícia, que levaram o comandante da polícia a dizer que fora Hintze que o instruíra para prevenir os manifestantes que só seriam permitidos "vivas e palmas", nada de gritos subversivos

Dois dias depois, na praça de touros do Campo Pequeno, os espectadores voltam a costas ostensivamente à família real, para ovacionarem Afonso Costa.




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fundação do Sporting Clube de Portugal(1906)



Em Belas, a pré-história

Tudo começou em 1902, quando um grupo de jovens veraneantes em Belas, então um bucólico e ainda distante subúrbio de Lisboa, decidiram fundar um clube e disputar um jogo de foot-ball (assim se designava a modalidade) em Seteais integrado nas festas populares de Sintra.

Foi um jogo muito animado e com frequência considerada distinta – figuras da família real estiveram presentes – disputado entre o Sport Club de Belas, a designação que os desportistas em férias tinham dado à sua colectividade, e um grupo de Sintra. Vitória por 3-0 do Belas,

Os jovens veraneantes, pouco mais do que adolescentes, regressaram ao quotidiano lisboeta, mantendo-se em contacto pois muitos deles partilhavam a área residencial do Campo Grande e frequentavam tertúlia na Pastelaria Bijou, que ainda hoje existe na Avenida da Liberdade.

Foi aí que, quase dois anos depois da experiência de Belas, em 1904, os jovens amantes do desporto e do convívio ao ar livre decidiram voltar ao terreno e fundar o Campo Grande Football Club.

A sede do Campo Grande Football Club ficou instalada num quarto do segundo andar do Solar dos Pinto da Cunha, edifício que continua a definir a esquina entre a Alameda das Linhas de Torres e o Campo Grande.

Além dos irmãos Gavazzo, participaram na reunião fundadora o jovem José Holtreman Roquette (José Alvalade), José Stromp e outros entusiastas da prática desportiva. O Visconde de Alvalade, José Alfredo Holtreman, avô de José Alvalade, patriarca da família então já a caminho dos 70 anos, foi designado presidente, a título honorífico, pelo seu apoio desinteressado e a sua capacidade natural de entender e incentivar os anseios e espírito de iniciativa do neto e respectivos amigos.

Futebol, esgrima, ténis, corridas, saltos, festas sociais e piqueniques foram as principais actividades dinamizadas pelo novo clube durante os primeiros dois anos de existência.

A fundação

Em 1906 os ambientes turvaram-se e gerou-se uma divisão entre os membros que defendiam uma colectividade vocacionada para festas e actividades de convívio social e outros que insistiam na dedicação à vertente desportiva.

Explica Júlio de Araújo, mais tarde presidente do Sporting, historiando o processo da fundação, que «dia-a-dia se acentuavam duas tendências: a dos rapazes de Lisboa, que desejavam a sede na Baixa; outra, a dos do Campo Grande, que a pretendiam naquele local, como seria justo e aconselhável». Além disso, de acordo ainda com a narrativa de Júlio de Araújo, «o desentendimento prevaleceu não somente quanto à sede, mas também quanto à forma de ser do Clube, visto que os de Lisboa, ao contrário dos do Campo Grande, mais se interessavam pelas festas do que pelas práticas desportivas».

Da turbulência nasceu uma cisão. José Gavazzo demitiu-se, acompanhado por mais cerca de duas dezenas de membros. Um deles foi José Alvalade que, sem demora, anunciou: «Vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para fazer outro Clube.»

Decisão que foi recompensada. O Visconde de Alvalade tutelou a criação do novo clube, depositou nas mãos do neto uma importante quantia em dinheiro, disponibilizou os terrenos para o campo de jogos na sua própria quinta – o Sporting ainda hoje continua a “morar” na mesma zona – e ficou como presidente da Direcção e como “Sócio Protector”.

Foi então que o jovem José Alvalade, num rasgo de entusiasmo aliado ao êxito das suas iniciativas, mas que se revelou de grande visão histórica, proferiu o célebre voto: «Queremos que este Clube seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa.»

Em 14 de Abril de 1906 a recém-criada colectividade adoptou a designação provisória de Campo Grande Sporting Club.

A 1 de Julho do mesmo ano, por sugestão de António Félix da Costa Júnior, passou a chamar-se Sporting Clube de Portugal. Em Julho de 1920, por proposta de Nuno Soares Júnior, a Assembleia Geral adoptou a data de 1 de Julho de 1906 como a da fundação oficial do Sporting. Foram 18 os fundadores

Ambição e dinâmica de vitória
O Sporting Clube de Portugal comemorou, portanto, cem anos bem contados, com respeito pelo rigor histórico. Outros somam anos a partir da fundação de entidades que lhes deram origem ou ignoram longos períodos de inactividade que se seguiram a uma efémera existência. São critérios. Para ser mais “idoso”, como outros se dizem, o Sporting poderia ter fixado como data da sua fundação a do Sport Club de Belas (1902) ou mesmo a do Campo Grande Sporting Club (1904), mas não o fez.

Nesses dias de 1906 ficou traçado o caminho: futebol sim, mas eclectismo também, correspondendo à vocação atlética multidisciplinar de alguns dos seus fundadores. Eles eram ao mesmo tempo dirigentes e atletas, jogavam futebol, faziam atletismo, praticavam ténis, tracção à corda, esgrima, críquete, ginástica, hóquei em campo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Acontecimentos no ano de 1906(I)

  • Apresentação dos novos ministro na Câmara dos Deputados (02/07)

A situação de governação sem parlamento, não era do agrado de D.Carlos I, que não via qualquer tipo de vantagem nos governos em "ditadura", como se chamava na altura, ao acto de governação sem parlamento, assim como também não via qualquer interesse na dissolução da respectiva Câmara.

A "solução" que ocorrera no final do ano d 1905, foi algo também pouco inédito, demissão do primeiro-ministro e a imediata nomeação do mesmo, que permitia ao chefe do governo, remodelar o respectivo executivo, leia-se sobretudo reavaliação de alianças.

Assim aconteceu, aproveitando José Luciano de Castro para nomear novos membros do Partido Progressista por "acaso", o conde de Penha Garcia (primo de João Franco) e António Cabral (amigo de Alpoim), aparentemente com o objectivo de acalmar a Dissidência oposicionista.

Como entretanto a Câmara de Deputados reabrira a 31 de Janeiro de 1906, logo em 2 de Fevereiro, os novos ministros foram apresentados, no meio de grande tumulto, com José Maria Alpoim a gritar das galerias "Fora o chefe dos ladrões".

Ainda a sempre presente questão do Tabacos, se mantinha na ordem do dia.

  • A demissão do governo de José Luciano de Castro
O incidente na Câmara de Deputados, conduz a que Luciano de Castro, tentado tirar partido da situação proponha ao rei a dissolução dessa Câmara o que significaria marcação de eleições a curto prazo. D.Carlos l, remeteu o assunto para o Conselho de Estado que recusou a dissolução por sete votos contra quatro, mas mesmo assim o Rei cede à pretensão de Luciano de Castro, marcando novas Cortes para 1 de Junho, sem contudo esclarecer qual a data da eleição,

Esta atitude favorável à pretensão do primeiro ministro, vem acicatar contra D.Carlos, todo o odioso da questão, como encobridor de ladrões, segundo a oposição quer monárquica quer republicana.

As manifestação públicas de repúdio ao rei aconteciam por toda a parte, nas suas aparições públicas, fosse a simples passagem em carruagem, ou aparição em espectáculos públicos, gerava situações de grande hostilidade.

Hintze Ribeiro chefe dos Regeneradores, mantém nesta crise, uma atitude prudente, sem antagonizar o governo, pretendendo construir a imagem do único Partido organizado e sério da Monarquia, chegando a propor uma coligação das oposições monárquicas em defesa do rei que o governo comprometera. Coligação contudo desde que não incluísse João Franco.

A tentativa de D.Carlos, para resolver a questão do governo, passava pela saída que se encontrasse para a "eterna" solução dos tabacos. Sabe-se que terá sugerido a Hintze Ribeiro, que deixasse passar no parlamento a assunto dos tabacos, a que se seguiria a demissão de Luciano de Castro e a nomeação de Ribeiro para primeiro-ministro. Caso não aceitasse, seria nomeado e ou acabava por resolver o assunto tabacos, ou daria o seu lugar a João Franco.

A recusa de Hintze e a necessidade do Rei em corresponder ao convite Espanhol, para uma visita oficial, veio suspender a questão até ao regresso do rei no dia 16 de Março.

Contudo estava bem claro, pelo menos para Ministros mais próximos do Rei, que era sua intenção demitir José Luciano de Castro.

Avisado este, no dia seguinte à chegada de D.Carlos de Madrid, apresenta-se no paço, para cumprir o ritual do pedido de demissão. Pede ao rei que meio para governar em ditadura, sancionando alguma medidas de carácter administrativo, perante a recusa do Rei, Luciano de Castro demite-se.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Acontecimentos no ano de 1905(II)

A Dissidência Progressista e as vozes minoritárias no Parlamento

  • As eleições de Fevereiro, não reflectiram a crescente influência da oposição republicana, pelo menos em termos de simpatia popular, como se pode colher do facto de terem vencido na zona urbana de Lisboa mas perdido largamente na zona rural conservadora e mais "manipulável", como já aqui se disse várias vezes em termos de "compra de voto".
  • Muito embora sem deputados eleitos, o partido republicano era bastas vezes elogiado no Parlamento. Perseguindo vários objectivos, os deputados franquistas e a partir de 10 e Maio de 1905 após a dissidência de José Maria Alpoim do partido progressista a que se juntaram 6 deputados daquele partido formando a Dissidência Progressista, juntaram vozes, no seu ataque à maioria progressista e também ao próprio Rei.
  • João Franco disse no Parlamento em Agosto deste ano " por um acto da coroa fui expulso do parlamento como um lobo danado, um conspirador inimigo das instituições". Ao mesmo tempo que lamentavam abertamente a ausência de deputados republicanos, em especial de Afonso Costa.
  • A visita do presidente Loubet da França republicana, também foi um acto de propaganda indirecta, pela forma como decorreu a visita e pela forma aberta de se gritar pelas ruas "Viva a República... francesa".
  • Contudo a expansão do movimento republicano em termos de crescimento objectivo, no que hoje se poderia chamar de militantes, não correspondia a um aumento significativo de centros republicano, aparecimento de alguns mais também correspondia ao encerramento de outros. Faltava também uma personagem forte e abrangente que se pudesse elevar acima dum certo "clubismo" divergente. As personalidades de António José de Almeida ou Brito Camacho de indiscutível qualidade pessoal, não o eram esse líder catalizador.
  • Era fácil nesse tempo promover-se agitação nas ruas, mas a aglutinação partidária e sua correspondente organização partidária, eram coisas muito diferentes, também porque o exemplo das figuras mais importantes do republicanismo, com algumas excepções, não era o melhor. Demasiados compromissos e demasiada proximidade entre essa personagens e outras dos partidos monárquicos, não permitiam que a demarcação ideológica se fizesse pelo menos aos olhos da generalidade das pessoas, conduzindo à sua recusa organizativa.
  • A crescente obstrução parlamentar, levou a que José Luciano de Castro, conseguisse o encerramento das Cortes.


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Acontecimento no ano de 1905(I)

*-Eleições para o Parlamento em Fevereiro de 1905

Mais uma vez à dissolução do Parlamento, ocorrida na véspera de Natal do ano anterior, voltaram eleições no dia 12 de Fevereiro de 1905, com a esperada maioria progressista mas com a eleição de 3 deputados franquistas, que significou uma relativa vitória das hostes de João Franco, já que progressistas e regeneradores pareceram mais preocupados com Franco, do que com os republicanos. Também os Nacionalistas de Cândido da Silva, um antigo ministro Regenerador, que se tornara chefe daquele partido em 1902, elegeram 2 deputados

O acordo habitual funcionou, sendo que os Regeneradores de Hintze Ribeiro obtiveram 32 deputados e os Progressistas maioritários com 107 lugares.

*-Um novo contrato de concessão do monopólio dos tabacos

No fim de Abril deste ano, o governo de José Luciano, volta a apresentar no parlamento uma nova proposta de concessão do monopólio à Companhia dos Tabacos. Perante a surpresa geral , a comissão da fazenda, com maioria progressista, recusa o projecto do seu próprio governo.
Afinal era simples a razão embora do mesmo partido, os deputados daquela comissão eram amigos de Alpoim, estava novamente aberta a clivagem interna desse partido entre José Luciano e Alpoim.

A consequência foi drástica, por proposta de José Luciano, a 10 de Maio de 1905, D.Carlos, exonera José Maria Alpoim do governo, entrando Artur Montenegro para o seu lugar na pasta da Justiça. Ao mesmo tempo que ordena, que o parlamento seja "adiado" até Agosto.

Quando o parlamento reabriu as 16 de Agosto, a guerra entre Alpoim e José Luciano, estava ao rubro, os discursos de um e outro. José Luciano hemiplético e que governava a partir de sua casa, não faltou a essa sessão.

Acusações recíprocas de grande violência, ocorreram em 25 de Agosto, entre acusações de compadrio e de corrupção recíprocas mas que naturalmente mais contundentes afinal para o chefe do governo e também para o rei que não podia ser afastado, do centro deste grave crise.

A 10 de Setembro o parlamento volta a ser encerrado e mais uma vez a questão dos tabacos, continua no centro da política parlamentar.


domingo, 6 de julho de 2008

Acontecimentos no ano de 1904(II)

* A questão dos tabacos, determina a queda de Hintze Ribeiro

Nem o facto do Partido Regenerador ter ganho as eleições de 25 de Junho, em virtude de Hintze Ribeiro ter promovido a dissolução do Parlamento, não obstou a que logo em 18 de Outubro deste mesmo ano viesse a cair o seu governo, por força da discussão parlamentar sobre os novos contratos do tabaco e dos fósforos, mesmo com uma maioria parlamentar de 2/3.

O negócio do tabaco, era um dos maiores negócios que existiam em Portugal e a renovação do contrato de concessão do monopólio da exploração desse negócio, sempre havia sido controverso, porque também ele servia de penhor a todos os grupos financeiros que se propunham conceer empréstimos a longo prazo ao Estado português.

Em Julho Hintze Ribeiro fecho negociações com a Companhia de Tabacos que já geria esse monopólio desde 1891, que se ofereceu para intremediar um empréstimo de 65 000 contos.

O outro grupo financeiro que Hintze consultara a Companhia dos Fósforos e que viera a rejeitar, veio a ser objecto de crítica por parte do Partido Progressista, insinuando que o negócio tinha sido pouco claro.

De tal forma que em Outubro essa companhia fosforeira, resolve apresentar uma nova proposta mais favorável. Que levou Hintze a pedir ao rei um adiamento do parlamento, para que se pudesse ouvir de novo as duas companhias.

Perante a recusa de D.Carlos, o chefe do governo demite-se porque "queria livrar o Estado do compromisso que ele próprio assumira para com a Companhia dos Tabacos", passando a batata quente para o outro lado.

Esta questão viria a constituir uma questão política que viria ocupar a luta política durante mais dois anos.

*Novo governo de José Luciano-8º no reinado de D.Carlos e 4º Progressista

Perante a demissão do governo, D.Carlos I escreva a José Luciano, chefe do Partido Progressista, convidando-o a formar governo, mesmo sabendo que sofrendo de grave hemiplegia, quase não saía da sua residência na Rua dos Navegantes.

Assim em 20 de Outubro, José Luciano, torna-se o primeiro presidente do Conselho de Ministros sem pasta.

Tradicionalmente a pasta do Reino era a pasta a ocupar por um primeiro ministro, neste caso , a atribuição significaria uma nomeação implícita para a sucessão na chefia do partido. Por não quer optar entre Veiga Beirão e José Maria Alpoim, atribuí a Pereira de Miranda um empresário de Lisboa aquela pasta.
  • Manuel António Moreira Júnior para a Marinha e Ultramar
  • Eduardo Vilaça nos Estrangeiros
  • Eduardo José Coelho nas Obras Públicas
  • Sebastião Teles na Guerra
*Segundo Tratado de Windsor

Aproveitando uma deslocação de D.Carlos a Inglaterra, foi assinado em 16 de Novembro, entre o rei português e Eduardo VII uma actualização do tratado de 1899.

Esse Tratado luso-britânico renova a garantia inglesa em relação à integridade dos nossos territórios metropolitano e ultramarino.



quinta-feira, 5 de junho de 2008

Acontecimento no ano de 1904(I)

*-Grande vaga de comícios de João Franco por todo o País

João Franco após ter fundado em 16 de Maio de 1903 o seu novo Partido a que chamou Regenerador Liberal, iniciou um vasto périplo político com comícios em vários pontos do País atravessando as cidades em grandes cortejos e enormes banquetes , nas cidades mais importantes como Porto e Coimbra.

Deslocava-se de comboio indo também a Braga, Évora e Faro e nas estações de paragem, era recebido com bandas de música e foguetes . Muito simpatizantes seus a ouvi-lo, também porque muito deles eram dirigentes da várias Associações de Comércio e Agrícolas.

Porém acentue-se de novo que a aceitação pelas suas causas, não tinha que ver, naquele tempo, com qualquer tipo de reflexo em acto eleitoral, como já se disse no acto de votar os infleuntes regionais, votavam sempre no partido do governo, que naturalmente "comprava" esses votos em troco de benesses.

O outro lado da vida política o que realmente contava, eram os jogos de bastidores e os acordos que entre as altas figura partidárias aconteciam, muitas vezes até contra o interesse dos próprios partidos, desde que isso correspondesse ao prejuízo de qualquer figura mais saliente da sua própria cor.

João Franco apercebeu-se que só conseguiria atingir o poder ou pelo menos participar dele se aliado a um dos dois grandes partidos do Rotativismo. Calhou desta vez a aproximação aos Progressistas.

*-Movimentação da oposição Republicana

Uma grande figura de intelectual português Bernardino Machado, que desiludido com o rotativismo monárquico havia manifestado a sua adesão ao Partido Republicano que constituiu um acontecimento que deu brado na época.

Logo em Janeiro de 1904 viria a dar uma conferência Republicana no Porto com enorme impacto. Ao mesmo tempo que promovia tanto em Lisboa como no Porto e em Coimbra romagens aos túmulos, de Elias Garcia, dos revoltosos do 31 de Janeiro mortos na Invicta e em Coimbra ao túmulo de José Falcão
Também no Porto, um grande comício republicano no Porto, em 7 de Fevereiro presidido por Manuel de Arriaga contra a política financeira, ilustram bem a agitação que marcava a vida política do País nestes primeiros meses do ano.

*Greve das Industrias Metalúrgicas

Os trabalhadores portuários e os metalúrgicos de várias casas existentes em Lisboa, aderem às greves das industrias metalúrgicas que se haviam iniciado no ano anterior.


quinta-feira, 15 de maio de 2008

Acontecimentos no ano de 1903

.-Maio-Manifestação em Lisboa junta cerca de 3000 viticultores

Uma imponente manifestação desfilou em Lisboa, levando ao Parlamento uma mensagem pedindo a adopção de medidas urgentes contra o problema da crise do vinho.

Esta crise devia-se essencialmente a um excesso de produção e no mercado internacional, pela entrada de vinhos doutras procedências , o que provocou uma acentuada queda nos preço, devido ao excesso de oferta.

.-Julho-Greves operárias no Porto

Começando pelos tecelões, rapidamente se generalizou a todas as categorias assalariadas da cidade bloqueando a produção e a circulação duranet vários dias

Créditos História de Portugal em datas de Luís Reis Torgal

.-Fundação do Boavista Footballers

foi fundado em 1 de Agosto de 1903 por um grupo de ingleses, colaboradores de uma fábrica Inglesa, a Graham, que se associaram a outros Portugueses residentes na área Ocidental do Porto.
A designação de então foi "Boavista Footballers", tendo a partir de 1910 adoptado a actual - Boavista Futebol Clube - após uma cisão com os elementos ingleses, que pretendiam jogar aos sábados (prática corrente em Inglaterra) mas que não se adaptava ao nosso país, já que o sábado era um dia normal de trabalho.

Em 11 de Abril de 1910 é inaugurado o estádio de então, no local das actuais instalações.

Segundo elementos históricos, o Boavista Futebol Clube foi o primeiro clube em Portugal a introduzir esta modalidade, que é o futebol, tendo inclusivamente sido o primeiro clube a constituir-se como profissional, em Janeiro de 1933.

-Dezembro,10-Afonso XIII de Espanha visita Portugal

Esta visita em bora como retribuição doutra que D.Carlos havia feito sózinho em , também tinha como não podia deixar de ser uma componente política, que também como sempre na política portuguesa, tinha que envolver a Inglaterra.
Neste caso a visão de Hintze Ribeiro e de Venceslau de Lima impunha uma não dependência excessiva direi ainda única, face ao aliado britânico, que embora minimizado pela entente anglo-franco, impunha uma aproximação ibérica.
Assim aconteceu a visita do jovem Afonso XIII a Portugal entre 10 e 17 de Dezembro, passando por Lisboa, Vila Viçosa e Sintra.
Aproveitou-se muito do desenho dos festejos acontecidos anteriormente com a visita de Eduardo VII em Abril deste ano, tiro aos pombos, touradas e récita em São Carlos e jantar de gala na Ajuda.
A preocupação da diplomacia portuguesa, era a aproximação espanhola à Alemanha e os rumores que corriam que Guilherme IIinstigava a Espanha para "desconfiar dos portugueses", ajudando-os a ocupar Portugal.





segunda-feira, 5 de maio de 2008

Acontecimentos no ano de 1903

  • Em 23 de Fevereiro, Hintze Ribeiro remodela o governo.

Teixeira de Sousa passa da Marinha para a Fazenda
Este médico termalista transmontano, que foi médico militar e também accionista da Empresa de Águas de Vidago, tendo como membro do partido Regenerador desempenhado, diversos cargos públicos, antes da sua nomeação para a Marinha e agora a pasta da Fazendo.
Teixeira de Sousa viria a ser o último chefe de governo monárquico.

Manuel Rafael Gorjão assume a pasta da Marinha
Nasceu em Lisboa, em 1846. General de brigada e governador colonial, fez a sua carreira no ultramar, designadamente em S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Foi governador de Moçambique, tomando posse em 1900, numa conjuntura particularmente sensível, aquando da guerra entre Inglaterra e o Transvaal.

Wenceslau de Sousa Pereira de Lima entra para os Estrangeiros
Nasceu este ilustre geólogo na cidade do Porto, no ano de 1858,matriculou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, cujo curso completou com distinção.
Professor Universitário durante perto de 30 anos

Pouco tempo depois de ter ascendido ao magistério superior, entrou para a política filiado no antigo partido regenerador, tendo desempenhado os lugares de governador civil dos distritos de Vila Real, Coimbra e Porto, sendo também eleito deputado pelos círculos do norte do país em diversas legislaturas.

Mais tarde em 1901 foi eleito Par do Reino, tendo tomado assente na respectiva câmara na sessão de 17 de Março do mesmo ano.

Alfredo Vieira Coelho Pinto Vilas Boas, 1º conde de Paçô Vieira, governador de Ponta Delgada, nas Obras Públicas, substituindo Vargas

A família pertencia à melhor aristocracia de Entre Douro e Minho. A família tinha fortes ligações aos meios políticos e grande implantação local, permitindo aspirar a uma carreira na magistratura ou na alta administração do Estado.
Depois de preparatórios em Braga e Guimarães, frequentou a Universidade de Coimbra, na qual obteve bacharelato em Direito no ano de 1883, tendo quase de imediato ingressado na magistratura.
Em 1890 foi promovido a juiz, por distinção, sendo colocado no Tribunal Administrativo de Viana do Castelo e depois como juiz de execução fiscal no Porto.
Filiado no Partido Regenerador e herdeiro político de seu pai, foi eleito deputado pela primeira vez nas eleições gerais de 30 de Março de 1890.
Durante o seu mandato prestou particular atenção ao problema das comunicações terrestres, com destaque para os caminhos de ferro, tendo sido construídas cerca de 500 km de vias, incluindo o ramal Guimarães-Fafe que passava em Paçô Vieira.

***Outro acontecimentos*****
  • Março,13-Revolta do grelo em Coimbra
O protesto tem como pretexto a contribuição industrial, impedindo-se a entrada na cidade dos pequenos agricultores dos campos de Cernache.
Intervenção da polícia e morte de um manifestante. Populares respondem à pedrada e ferem gravemente o comandante da força, o alferes Antunes.
Nova carga policial e mais um morto.
Estudantes manifestam-se em solidariedade para com as vítimas e a Universidade é encerrada.
Nomeado um governador militar, com a cidade a ser ocupada por 500 soldados.
No dia 14, greve de protesto dos comerciantes, que encerram as lojas. Os soldados são atacados a tiro.
Progressistas apoiam as medidas do governo para o restabelecimento da ordem. Só no dia 16 é que a região volta à normalidade. Segundo denúncias publicadas no jornal O Dia, de 16 de Março, sociedades secretas de estudantes teriam previsto um ataque ao comboio no qual regressa a Lisboa, vindo de Paris, Pereira Carrilho. Embora o mesmo não tenha sido descarrilado, é efectivamente atacado a tiro e à pedrada.

Créditos: Anuário de 1903
  • Maio,16-João Franco lança em Lisboa um novo partido o Partido Regenerador Liberal
Consumou-se a dissidência de João Franco no seio do regeneradores com a formação do Centro-Regenerador-Liberal Opondo-se ao sistema rotativo a quem atribuía as culpas da degradação da situação política, o novo aprupamento apontava para o fortalecimento do podere executivo


quinta-feira, 3 de abril de 2008

Acontecimentos no ano de 1902


  • Suicidio de Mouzinho de Albuquerque
Um dia Eça de Queiroz disse sobre Guerra Junqueiro

“Concluindo que a vida lhe não convinha, saiu dela voluntariamente”

o mesmo se pode dizer de Mouzinho de Albuquerque, a propósito do seu suicídio. Certo que sempre tivera da morte uma visão muito especial, atendendo a que por diversas vezes "invejara", algumas mortes de outros, quando consumadas em clima de glória, ou como ele dissera "morrer bem".

Não deixou de constituir um enigma para muitos, embora as três cartas escritas antes pudessem esclarecer o verdadeiras causas o certo é que a primeira dirigida a sua mulher D.Maria José, nunca foi revelado o seu conteúdo, a segunda escrita ao seu amigo Conde e Arnoso, foi queimada e a terceira escrita à Rainha D.Amélia, andou desaparecida algum tempo, só mais tarde encontrada na Torre do Tombo dizia

“Minha Senhora

Perdoe-me Vossa Majestade e não me ache cobarde pelo que fiz. Mas ser tido em mau conceito, ser desprezado é mais do que posso. Não creio que o suicídio nestas circunstâncias não seja um direito. Minha Senhora! Vossa Majestade nada perde senão um homem que no seu serviço fazia tudo e de tudo era capaz. Mas não pude ser. Paciência.

Perdoe-me Vossa Majestade e reze por mim, se acredita que existe alma. Eu não acredito. Beijo as mãos de Vossa Majestade cheio como sempre de reconhecimento e dedicação.

Seu Maior criado
Mouzinho de Albuquerque”.

Mais tarde num livro de memórias a Rainha D.Amélia disse ser sua convicção que Mouzinho pretendeu com o seu sacrifício, pôs fim em definitivo às atoardas postas a correr e que atentavam contra a honra de ambos.

Também o revólver que escolhera e que lhe daria garantia de não falhar e as munições que ele próprio havia comprado numa casa na rua do Ouro, deveriam ser suficientes para desvanecer as dúvidas sobre a autenticidade do seu suicídio.

Resumindo, como escrevi em blogue anterior, quando me referi às consequência do seu regresso de Moçambique por incapacidade de diálogo e de entendimento com as políticas do governo de Portugal

Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio orgulhoso, de resistir ao clima de intriga, de indecisão política e de decadência em que a monarquia agonizava, Mouzinho de Albuquerque prepara minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de um "coupé", na Estrada das Laranjeiras no dia 8 de Janeiro de 1902.

Créditos : Revisitar Mouzinho de Albuquerque porJoão José Brandão Ferreira


  • As Companhias Reunidas de Gás e Electricidade alargam a toda a cidade de Lisboa a iluminação eléctrica.

Constituídas em 1891, a partir da fusão da Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás e da Companhia Gás de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa concedera-lhes o direito de "produzir, distribuir e vender gás e electricidade destinada à iluminação pública e particular e a outros usos domésticos e industriais na área municipal da cidade de Lisboa".

A introdução de sistemas de iluminação eléctrica em Portugal parece ter ocorrido em Setembro de 1878, com a exibição na Cidadela de Cascais, por ocasião de um aniversário do Rei D. Carlos, de seis candeeiros de arco voltaico importados de Paris, idênticos aos que iluminavam a Praça da Ópera.

Refiram-se ainda outras iniciativas dispersas da iluminação eléctrica, como foi o caso, em 1886, da instalação eléctrica do Teatro S. Carlos, a do Arsenal da Marinha em 1887, a do laboratório fotográfico de Emílio Biel, no Porto, a iluminação da Real Fábrica de Fiação em Tomar, a partir de 1884, ou, em Lisboa, em 1889, a instalação do "Posto de Luz Eléctrica da Avenida".

Em 1893, Braga foi iluminada e, no ano seguinte, Vila Real é a primeira rede de iluminação pública com recurso à energia hidráulica, a partir do rio Corgo.

Créditos: Fundação Mário Soares
  • Janeiro,05-Congresso do Partido Republicano em Coimbra
Repressão monárquica e divergência no seio do partido noemadamente entre Afonso Costa e Sampaio Bruno, levaram a alguma quebra na actuação deste partido.
Foram então neste congreso retirados alguns poderes ao Directório e entregues a 3 juntas directivas (norte, centro e sul), descentralização que terá animado os organismos de base.



  • Janeiro,29-Jacinto Cândido anuncia na Câmara dos Pares a formação de um Partido Nacionalista.
Saído das hostes clericais ligadas ao Centro Católico fundado alguns meses antes. Jacinto Cândido da Silva (nasceu 30 de Novembro de 1857 em Angra do Heroísmo e morreu a 26 de Novembro de 1926), dissidente do Partido Regenerador, onde adquiriu a reputação de "conservador progressista", funda, juntamente com Jerónimo Pimentel e o conde de Bertiandos, o Partido Nacionalista. Este partido foi comparado pelos contemporâneos ao Zentrum, partido conservador e católico alemão. Jacinto Cândido tentou formar o bloco social-católico à semelhança do que acontecia em outros países da Europa, defendendo o catolicismo e políticas nacionalistas.

Créditos: Fundação Mário Soares




terça-feira, 25 de março de 2008

Acontecimentos do ano de 1901


  • A ruptura Franquista e a Ignóbil porcaria

O acentuar das divergências há muito evidenciadas entre o chefe do governo Hintze Ribeiro e o deputado João Franco, dentro do Partido de ambos o Regenerador. Em 13 de Fevereiro de 1901, o Sr. João Franco proferiu sobre as concessões no Ultramar um discurso que não agradou ao governo, e que o presidente de conselho considerou de oposição declarada.

Na sessão de 14 de Maio, o deputado Sr. Malheiro Reimão atacou vivamente o projecto relativo à contribuição industrial, e no dia seguinte o Sr. João Franco atacou também esse projecto, explicando desassombradamente à câmara as razões de ordem politica e económica que o levavam a combater esse projecto.

Malheiro Reimão era um deputado amigo de João Franco. Hintze Ribeiro completamente fora de si, tomou a palavra para expulsar Reimão do Partido Regenerador, com a acusação de "na oposição se colocou e na oposição fica".

Este facto trouxe grandes repercussões no parlamento pois cerca de 25 deputados decidiram acompanhar João Franco, provocando uma ruptura na maioria parlamentar ficando apenas 70 do lado do governo de Ribeiro

Este cisão acabará por satisfazer os interesses do governo, pois Hintze conseguiu obter da parte do Rei a dissolução da câmara electiva, medida governamental que foi motivo de grandes controvérsias, porém D.Carlos decidira confiar emHintze dando lhe os meios para expulsar os franquistas do parlamento

Revogada também a lei eleitoral e substituída pela de 8 de Agosto de 1901, que alterou por completo a anterior, realizaram-se as eleições gerais, ficando fora da câmara o João Franco e quase todos os seus amigos políticos. Estava, pois, consumada a cisão, e iniciada a existência dum novo grupo político, que tomou o título de partido regenerador-liberal.

Lei eleitoral de 1901 (Decreto de 8 de Agosto, a chamada ignóbil porcaria). Neste contexto, o governo hintzáceo emitiu a lei eleitoral de 8 de Agosto de 1901, onde, para além de se aumentar o número de deputados (para 157) e de se restaurar o processo de representação das minorias que havia sido extinto em 1895 (foram atribuídos 37 deputados às mesmas), criaram-se 26 grandes círculos plurinominais, 4 dos quais nas ilhas. Segundo o relatório do diploma procurava evitar-se a fragmentação dos partidos em clientelas e, com efeito, os influentes locais, a nível de freguesia e de concelho, deixaram de ter o tradicional poder. Por outro lado, os grandes partidos do sistema saíram altamente beneficiados, dado que o resultado eleitoral passou a ser controlado pelo acordo estabelecido entre o partido no governo e o principal partido da oposição. Naturalmente, os outros membros da oposição, percebendo a manobra, logo protestaram, principalmente João Franco que, num dos seus rasgos de baptismo verbal, logo acusou o diploma de ignóbil porcaria, visando o estabelecimento de uma ditadura eleitoral. Na prática, esta teoria funcionou com nova vitória do governo nas eleições de 6 de Outubro de 1901. Uma vitória de tal monta que os próprios franquistas só conseguiram eleger um deputado por Arganil, que não o respectivo líder. Com efeito, face ao desaparecimento da influência dos caciques locais, tudo passou a ser decidido por um acordo central entre a situação e a oposição, atingindo-se assim o nível do rotativismo puro. O partido no governo, com efeito, só não atingiu as maiorias em Aveiro e do Funchal e os próprios republicanos, apesar de aumentarem a votação, não conseguiram ver nenhum deputado eleito (só em 15 de Dezembro é que Afonso Costa apareceu eleito pelo círculo do Dondo, em Angola).

(Retirado de iscsp.ut)




  • Junho,01-João Arroio abandona o governo, sendo substituído por Matoso dos Santos no ministério dos negócios estrangeiros.
Este abandono por parte de João Arroio também contribuiu para a dissolução do parlamento devido à perda pelo governo do apoio da facção João Arroio do, já enfraquecido pela saída do grupo de João Franco.

Escritor português, natural de Vila do Conde, onde viveu até completar o quinto ano do liceu, após o que continuou a estudar no Porto.
José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, publicou, em Vila do Conde, nos jornais O Democrático e República, os seus primeiros versos. Aos 18 anos, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese «As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa».
Esta foi pouco apreciada, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas então quase desconhecidos, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Esta tese, refundida, veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa (1941).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença (cujo primeiro número saiu a 10 de Março, vindo a publicar-se, embora sem regularidade, durante treze anos), que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


quarta-feira, 12 de março de 2008

Movimentação anti-clerical

A filha de José Calmón, cônsul brasileiro no Porto foi raptada em 17 de Fevereiro de 1901, à saída da Igreja da Trindade no Porto, por um grupo de reaccionários, segundo clamou o cônsul. A sua filha de nome Rosa pretendia entrar para um convento contra a oposição da família.

A acusação da influência jesuítica, trouxe grande agitação por todo o País, nomeadamente em Setúbal onde foram mortos dois populares, pelos militares, na Avenida Luisa Todi, em sequência das manifestações, e em Lisboa

De qualquer forma esse incidente também serviu para acentuar a radicalização política, a partir duma questão religiosa que foi o pretexto para o aparecimento de movimentos anticlericais monárquicos, como a Liga Liberal, (em 25 de Abril), dirigida por José Dias Ferreira, e a Junta Liberal Republicana(em 30 de Abril), de Miguel Bombarda, enquanto os católicos se organizam, com destaque para a criação em Coimbra do Centro Nacional Académico, base do Centro Académico da Democracia Cristã (em 16 de Março de 1901)

O inquérito mandado abrir pelo governo a 10 de Março e mandará em sequência do mesmo, encerrar várias casas religiosas, chegando mesmo a proibir o noviciado, por decreto de 18 de Abril, muito embora tenha confirmado autorização às obras religiosas que se dedicassem à beneficência.

Dum modo satisfatório e equilibrado havia o governo conseguido sair o governo, conseguindo inclusivamente obter grande aplauso para o rei quando a 14 de Abril aparece publicamente numa tourada no Campo Pequeno.

Difícil será contudo suster a crise que a ruptura com João Franco irá acentuar como se verá depois.


sábado, 8 de março de 2008

Acontecimentos no ano de 1900(2ª Parte)

Depois da morte de António de Serpa e a liderança assumida no Partido Regenerador por Hintze Ribeiro, perante a demissão de José Luciano, obviamente que a chefia do governo seguinte só poderia ser entregue pela segunda vez a Hintze Ribeiro.

De imediato João Franco anuncia que não fará parte do novo executivo,(por certo desnecessário esse anúncio), na esperança ténue que o rei não convidasse Ribeiro para esse cargo.
  • Anselmo José Franco Assis de Andrade, na fazenda, em Novembro substituído por Fernando Matoso dos Santos.
  • António Teixeira de Sousa, para a pasta da marinha e ultramar
  • José Gonçalves Pereira dos Santos , nas obras públicas, em Novembro substituído por Manuel Francisco Vargas
  • João Marcelino Arroio nos estrangeiros.
  • Artur Alberto Campos Henriques na justiça
  • Pimentel Pinto na guerra
  • Hintze Ribeiro acumulando com a pasta do reino
A subtileza de Ribeiro em convocar Campos Henriques e Teixeira de Sousa, aliados de João Franco para o governo foi uma acha mais para a grande fogueira da rivalidade e da disputa entre ambos.

Em Maio de 1900, na Assembleia, porque um deputado regenerador se atreveu a criticar uma proposta do governo, Ribeiro expulsa-o de imediato do partido, Essa celeuma fractura os regeneradores dum forma concreta cindindo-se em 25 deputados para o lado de Franco e 75 para o de Ribeiro.


Este facto foi o argumento para Hintze conseguir de D.Carlos nova dissolução do parlamento, que lha concedeu, dando lhe os meios para através de novas eleições expulsar os "franquistas" do parlamento, agora agrupados como regeneradores liberais.

As eleições que se seguiram em 25 de Novembro, trouxeram como seria de esperar (o governo ganha sempre as eleições como era tradicional), a vitória dos partidários de Hintze. Desta vez não são eleitos deputados republicanos, apesar do partido aumentar as votações.

Apenas surgem como independentes Mariano de Carvalho, Augusto Fuschini, o visconde de Mangualde e José Dias Ferreira.

  • Agosto, 16 - Morte de Eça de Queirós em Paris.

Morre em Paris onde desempenhava as funções de cônsul-geral. tendo cursado Direito, dedicou-se desde cedo à carreira diplomática tendo saído novo de Portugal.


Humor irónico e uma arte narrativa de grande riqueza caracterizou como ninguém a sociedade portuguesa do século XIX.
Para ler mais sobre Eça clicar aqui
  • Dezembro, 28 - Morte de Serpa Pinto
Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto, figura mais ilustre do concelho de Cinfães, nasceu em 1846 na Quinta das Poldras, freguesia de Tendais. Passou grande parte da sua infância no Brasil, tendo ingressado em 1858 no Colégio Militar, em Lisboa.

Cursou direito em Coimbra, curso que viria a abandonar para se dedicar por inteiro à carreira militar Em 1877 enceta a exploração e travessia científica no continente africano que o tornou célebre.

Em 1881 é publicada a obra da sua autoria intitulada: "Como Eu Atravessei a África". Em 1900 é eleito deputado pelo círculo de Cinfães.

Falece em Dezembro deste mesmo ano sendo sepultado no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde jaz.

Retirado de :Concelho de Cinfães



sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Acontecimentos no ano de 1900

Muito embora o século XX tenha começado com a continuação do governo de José Luciano de Castro, uma grave doença do foro degenerativo da medula dorsal, que pouco a pouco o levou à paralisia dos membros inferiores, governando pelo telefone a partir da sua casa na rua dos Navegantes.

José Luciano optou por não se demitir, não tanto se o fosse por um membro do Partido Regenerador, mas temendo ser substituído por outra pessoa do seu próprio partido. Ao rei era dito que a crise havia de passar uma coisa temporária, aguardando "que o homem se ponha bom", como lhe era dito.

Um ano anterior no discurso da coroa a 2 de Janeiro, José Luciano havia apresentado uma reforma constitucional que após mais dum ano parada volta a 14 de Março de 1900 ao parlamento.

O objectivo maior desta reforma era o de acabar com a suspensão temporária da assembleia legislativa sob pretexto duma qualquer discussão parlamentar, pelo que se pretendia restringir as prerrogativas do Rei do fazer, aos mesmo tempo que se atribuía aos tribunais a apreciação da constitucionalidade das leis , recusando decretos ou origens do governo, que não estivessem em conformidade com a constituição.

Era o cunho liberal que José Luciano, pretendia assumir duma forma clara, porém o argumento da oposição Regeneradora foi poderoso, lembrando que ainda não tinha passado o prazo entre possibilidade de nova revisão constitucional, já que a anterior fora em 1896.

Como essa revisão fora conseguida em ditadura, não achava José Luciano, que deveria validada a contagem que a oposição, pretendia fazer.

Eram basicamente estas as argumentações que dividiam os dois principais partidos, assumindo o rei uma posição de grande habilidade, admitindo que lhe agradavam os princípios defendidos por José Luciano , mesmo com prejuízo dos seus poderes como ele dizia, mas por outro lado, não dava provimento à argumentação do governo, ou seja negando a validade das decisões tomadas em ditadura.

José Luciano apresentou a sua demissão, da chefia do governo no dia 26 de Julho de 1900.

  • Fevereiro,18-Repetição das eleições no Porto, com nova vitória, dos republicanos, com a eleição de Afonso Costa, Xavier Esteves e Paulo Falcão.
As eleições no Porto do dia 11 de Novembro do ano anterior, haviam sido anuladas em 5 de Janeiro,alegando-se irregularidades tendo sido marcadas novas eleições para Fevereiro.
*********************************
  • Fevereiro,12-Ferreira de Almeida defende na Câmara dos deputados a venda das Colónias
Logo no dia da abertura das Corte, este deputado e já com os 3 deputados republicanos reeleitos defendeu esta venda

José Bento Ferreira de Almeida, antigo ministro da Marinha e Ultramar, defende na Câmara dos Deputados a venda das colónias (à excepção de Angola e de S. Tomé e Príncipe), como forma de pagar a dívida externa e fomentar o desenvolvimento do país.

A questão dos crescentes deficits financeiros da monarquia constitucional estivera, aliás, na origem de um acordo que teria sido celebrado em 1898 entre a Inglaterra e a Alemanha prevendo a partilha de Angola, Moçambique e Timor, em caso de dificuldades que obrigassem a avultados empréstimos externos por Portugal.

No ano seguinte, em função dos acontecimentos relacionados com a Guerra dos Boéres, a Inglaterra e Portugal renovam os tratados de Windsor, mantendo o status quo. Neste mesmo ano, Ferreira de Almeida será nomeado Par do Reino por D. Carlos I, enquanto António Enes, o vencedor das campanhas em Moçambique, fica de fora.

******************************************
  • Março,02-Com a morte de António Serpa Pimentel, chefe do Partido Regenerador.- Hintze Ribeiro é escolhido para a liderança dos regeneradores.
******************************************
  • Março,19-Morte de António Nobre. Poeta autor de Só, publicado em Paris em 1892.
António Nobre nasceu no Porto, matriculando-se em 1888 no curso de Direito na Universidade de Coimbra. Como os estudos lhe corressem mal, partiu para Paris onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas, licenciando-se em Ciências Jurídicas. De regresso a Portugal, tenta entrar na carreira diplomática, mas a tuberculose impede-o.

Doente, ocupa o resto dos seus dias em viagens a procurar remédio para o seu mal, da Suíça à Madeira. Faleceu ainda muito novo na Foz do Douro. Obras poéticas: Só (publicada em Paris em 1892), Despedidas (1902) e Primeiros Versos (1921), ambas publicadas postumamente.

Retirado de :Projecto Vercial.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Acontecimentos no ano de 1899

A remodelação governamental ocorrida no ano anterior, não trouxera nada de novo, não mais do que uma nova atitude "eventualmente" mais liberal no facto dos novos ministros, até aos contínuos apertarem as mãos.

O certo é que, a partir da primavera deste ano o câmbio da moeda melhorou, graças a factores externos, como a melhoria da situação no Brasil que permitiu a chegada da novas remessas de emigrantes.

Uma epidemia de peste bubónica no Porto, com eventual origem em Bombaim, ocorrida entre Junho e Setembro de 1899,porém, trouxe nova crise nas relações, entre governo e oposição.

Com efeito o governo procurou atenuar os efeitos da peste , montando um cordão sanitário em volta da cidade, por proposta do médico Ricardo Jorge.

As medidas impostas embora necessárias, foram consideradas prejudiciais para a economia da cidade, pela câmara municipal.

Aproveitando esse descontentamento popular e com o apoio explícito dos Regeneradores, fora da esfera do governo nesse momento, nas eleições que irão ocorrer em 26 de Novembro deste ano, conseguirão os Republicanos eleger 3 deputados,(Afonso Costa, Paulo Falcão e Xavier Esteves), que ficarão conhecidos pelos "deputados da peste"

Muito embora o partido Progressista de José Luciano, no governo, tenha obtido a maioria, arrastou também alguns anti-corpos para além dos deputados da peste, como o caso dum deputado por Setúbal, Henrique Burnay, que acusara o governo de falta de seriedade nas contas.


  • Março-Estreia do Teatro São Carlos da ópera A Serrana de Alfredo Keil
A ópera de Alfredo Keil que mais tempo perdurou no tempo foi sem dúvida “Serrana”, a primeira com libreto em português, inspirada num romance de Camilo Castelo Branco, composta entre 1895 e 1899 e estreada com sucesso no Teatro São Carlos, em Março de 1899. É a sua peça musical mais conhecida, exceptuando “A Portuguesa”, e, no século passado, foi levada à cena mais onze vezes.

******************************************
  • Março-Morte de António de Serpa líder dos Regeneradores
Com a morte de António Serpa, em Março, os regeneradores passam a ser formalmente chefiados por Hintze Ribeiro. Numa altura em que brilham parlamentarmente João Franco, João Arroio e Abel de Andrade, chegando este último a destacar-se por ter enfrentado o ministro progressista José de Alpoim num duelo.

(Retirado do blog do Prof.Adelino Maltez ver mais clicando aqui)

*******************************************

  • Abril,19-Nasce em Loulé, Duarte Pacheco que vira a ser ministro das Obras Públicas do Estado Novo.
Em 1923 forma-se em Engenharia Electrotécnica pelo Instituto Superior Técnico (I.S.T.) de Lisboa, onde se torna professor ordinário e director interino em 1926. A 10 de Agosto de 1927, torna-se seu director efectivo.

No ano de 1928, sob a orientação de Duarte Pacheco, dá-se início à construção dos edifícios do Instituto Superior Técnico (I.S.T.) de Lisboa, construindo-se aquele que viria a ser o primeiro Campus Universitário português. Existe uma história curiosa quanto à origem dos vidros do edifício do Instituto. Diz-se que foram enviados por diversas indústrias vidreiras como amostras solicitadas pelo próprio Ministro, a fim de determinar o de melhor qualidade, sendo utilizadas nas janelas do edifício sem se terem informado as indústrias solicitadas e sem ter havido nenhum tipo de remuneração dos vidros usados.

Nesse mesmo ano, Duarte Pacheco torna-se presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sendo mais tarde convidado para ministro do Governo, passando a ocupar a pasta de Ministro da Instrução Pública.

Mais tarde, abandona as funções ministeriais e regressa ao I.S.T., onde permanece até 1932, altura em que volta a ser convidado por Salazar, que admirava o seu carácter, para o Governo, assumindo agora a pasta de Ministro das Obras Públicas e Comunicações.

Em 1936, com uma reforma da corporação política, Duarte Pacheco é afastado do Governo, regressando ao I.S.T.. No dia 1 de Janeiro de 1938 assume a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, para, pouco tempo depois, voltar a ser nomeado Ministro das Obras Públicas e Comunicações.

Morre no Hospital da Misericórdia de Setúbal, a 16 de Novembro de 1943, na sequência de um acidente de automóvel, ocorrido na véspera na estrada de Montemor-o-Novo, Vendas Novas, perto das instalações da Marconi.

Para ler mais clicar aqui
*********************************************
  • Julho,26-Lei de proteção a agricultura (conhecida como a 'Lei da Fome')
Surge a lei do trigo de Elvino de Brito, marcada pelo princípio do proteccionismo, onde se prevê um processo de tabelamento dos preços do pão. Em nome da defesa da produção agrícola nacional, o pão aumenta cerca de 40%, pelo que os detractores do diploma lhe vão chamar a lei da fome (14 de Julho). Segundo um estudo de Albino Vieira da Rocha, de 1913, a lei não beneficia o consumidor (os preços sobem) nem o trabalhador agrícola (os salários baixam), mas apenas o proprietário e o rendeiro a longo prazo.

Retirado do blog do Prof.Adelino Maltez ver mais clicando
aqui.
*********************************************