terça-feira, 31 de julho de 2007

Florbela Espanca-nascimento


Foi em Vila Viçosa do Alentejo que nasceu em 8 de Dezembro de 1894, pouco tempo depois da suspensão da Assembleia dos Deputados referida na entrada anterior.

Filha de pai incógnito, expressão infelizmente usual em Portugal até 1974, foi lhe posto o nome de Flor Bela de Alma da Conceição.

Na literatura portuguesa será chamada Florbela Espanca, por mais tarde se ter revelado o apelido de seu pai.


Precoce já fazia poemas e ainda dava erros de ortografia, virá mais tarde cursar Direito em Lisboa.

Casa por 3 vezes mas a infelicidade latente em toda a sua poesia e o seu exacerbado egocentrismo, levam-na ao suicídio precisamente no dia em completaria 36 anos.
Mais do que o relato biográfico da vida de Florbela Espanca,que pode ser acompanhado em

http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm

interessa-me referir os dois poemas que mais gostei

A nossa casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!

Onde está ela, Amor, que não a vejo?

Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?

O brando ninho aonde o nosso beijo

Será mais puro e doce que uma asa?


Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,

Andamos de mãos dadas, nos caminhos

Duma terra de rosas, num jardim,


Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti

E tu, ó meu Amor, dentro de mim...


e


Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,

E me prendesses toda nos teus braços...


Quando me lembra: esse sabor que tinha

A tua boca... o eco dos teus passos...

O teu riso de fonte... os teus abraços...

Os teus beijos... a tua mão na minha...


Se tu viesses quando, linda e louca,

Traça as linhas dulcíssimas dum beijo

E é de seda vermelha e canta e ri


E é como um cravo ao sol a minha boca...

Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Acompanho este poemas por Liebestraume de Liszt, que Florbela não deixaria de ter escutado também.

Aproveito para lembrar um disco em vinil, gravado pela Eunice Muñoz, só com poemas de Florbela Espanca e acompanhada ao piano.


Que pena eu tenho de não ter esse disco comigo e de não ter sido tanto quanto eu saiba reeditado em CD.


segunda-feira, 30 de julho de 2007

No preâmbulo do governo em ditadura

A reabertura das cortes em Outubro de 1894 não correram nada bem, gerou-se uma grande confusão, muito embora as eleições de 15 de Abril tivessem determinado a reeleição da quase totalidade da anterior assembleia, menos uns 10 nomes.A oposição deu-lhe o nome do solar dos barrigas e o governo de ser o partido dos empregados públicos.

A guerra instalada entre os partidários de Hintze e Franco e a distribuição dos tachos fez com que nem se chegasse a perceber quem queria mais romper com a "saúde" da Assembleia.

Aconteceu então que em 28 de Novembro de 1894 a assembleia foi suspensa acabando por ser de novo dissolvida em 28 de Março de 1895.

Portanto desde Novembro de 1894 governou-se em regime de ditadura, apesar da oposição organizar grandes comícios de protesto.

A ditadura invoca a circunstância de governar contra os intriguistas e contra a política burocrática (João Franco). O conde de Ficalho dizia então que quem deve governar é quem paga,tudo o mais são histórias .

Ramalho Ortigão, considerava então que da eleição popular não sai nunca para o Governo aquele que mais sabe, mas sim aquele que mais intriga.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

As eleições na monarquia constitucional

Em 1908 António Feijó disse "no nosso país, a nação são os partidos, fora deles não há senão ignorantes e analfabetos. Era a constatação dum facto, que sublinhava a ignorância e o analfabetismo que grassava por todo o País e que se iria manter fortemente implantado, pelo menos mais 60 anos.

Não podia dizer-se que o eleitorado português fosse pequeno em termos europeus, em 1886 rondava os 900 mil eleitores , 75% homens com mais de 21 anos.

O sistema eleitoral clássico do voto individual dentro da urna dobrado para garantir a "confidencialidade" da sua opção, parecia corresponder aos requisitos democráticos necessários para que o sistema eleitoral assim fosse considerado.

Parecia que assim era, mas a realidade era outra, os votos eram em grupo, funcionavam em igrejas e por grupos organizados por pessoas "influentes" locais, que forneciam os votos que até seriam facilmente identificáveis pelo tipo de papel.

Os condicionalismo existentes para poder ser eleito deputado, para além de ser restritivo apenas a pessoas do sexo masculino também limitava o número de pessoas que podiam ser eleitas deputados pois deveriam ter uma renda anual mínima de 400$00 réis, o que para o tempo era uma soma considerável.

Estimam-se em 10% o número de pessoas ilegíveis para a Câmara de Deputados e que eram numero suficiente, para espalhados pelo País controlarem o voto dos outros 90%.

Claro que eram principalmente os caciques dos Partidos Regenerador e Progressista, que lutavam do terreno pela influência junto dos eleitores, utilizando complexas redes de compadrios políticos.

A troca de favores era a que se podia adivinhar, pelo que a nomeação para o governo, era fundamental para se poder retribuir a influência manifestada durante o processo eleitoral.

Esta a razão porque havia grande envolvimento desses influentes políticos, era muito interessante a contrapartida pós eleitoral, segundo Rui Ramos na biografia de D.Carlos, por exemplo em Évora na década de 1850, 53% dos homens mais ricos exerciam cargos públicos.

Assim o que realmente contava em período eleitoral não era a disputa de ideias ou de programas, mas sim o acordo entre os dois partidos principais, assentes no principio da alternância entre a "conservação" e o "progresso", ou seja entre Regeneradores e Progressistas, sendo o Rei garante que a oposição devia ser moderada, e o partido momentaneamente no poder não poderia abusar dessa posição para prosseguir o outro.

Acima deste acordo havia pois o Rei, cujas prerrogativas constitucionais davam a possibilidade de desempenhar um papel fundamental em todas as fases da vida política, nas eleições, na formação dos governos e na sua direcção.

O momento mais importante das eleições não era o voto, mas a decisão do Rei em as convocar, pois consistiam na oportunidade do governo por si nomeado e da sua confiança em obter uma nova maioria. Convém não esquecer que o facto de se estar no poder é que dava votos, porque era o poder que dava cargos e os cargos que influenciavam os resultados.

O partido na oposição nunca esperava ganhar as eleições, só esperava poder negociar com o governo a constituição dum grupo parlamentar condigno.

A subida ao poder dum partido era independente dos resultados eleitorais, apenas dependia da vontade do Rei.

Era assim a farsa eleitoral naquele tempo, que presumivelmente em toda a Europa só em Portugal e em Espanha acontecia.O negócio eleitoral substituía a disputa eleitoral democrática.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Novas eleições parlamentares-1894

Dizia-se que as deliberações do governo sem o voto de João Franco eram nulas,o que minava a confiança no sucesso do governo, acrescido pela adversidade entre Franco e Hintze.

Os primeiro tempos da governação foram consumidos nas negociações com os comités de credores externos, acabando por encontrar uma forma de acordo com a Lei de 19 de Maio de 1893. Afinal o governo de Dias Ferreira havia reduzido o ´défice para "apenas" 4.000 contos.

A solução encontrada pelas Finanças, foi ao usual aumento de impostos sobre a Industria e o Comércio o que motivou o natural protesto das associações de classe, levando o governo a recuar, por temer em especial a efervescência nos distritos do norte.

Não foi por certo por Fuschini, ministro da Fazenda , ter visto as suas propostas de aumento da Contribuição Industrial sido recusadas, que aconteceram eleições para o Parlamento que confirmaram o apoio ao Partido Regenerador no governo, onde os Republicanos apenas elegeram 3 deputados. Não obstante D.Carlos decide dissolver o Parlamento, marcando novas eleições para o dia 7 de Março de 1894, posteriormente adiadas para o dia 15 de Abril.

A teia de intrigas e compadrios que fazia parte do complexo sistema político, era excessivamente complicada, para não falar dos próprios meandros do processo eleitoral, muito diferente do que podemos conceber nos nossos dias. Aquilo que hoje se poderia catalogar como caciquismo, é uma brincadeira de crianças comparado com o processo eleitoral desse tempo.

As eleições era o reflexo de meros acordos,nesta altura negociado perfeitamente ao centro, entre Regeneradores e Progressistas, que para o efeito se consideravam Monárquicos coligados a esse nível de interesse contra Republicanos e outras formações mais à esquerda, dai que não possa surpreender que a grande remodelação acontecida após esse período eleitoral tenha sido a substituição de Augusto Fuschini e a sua Liga Liberal do elenco governativo, ao qual nunca mais voltaria.

Afinal um dos amigos mais íntimos del-rei, não havia resistido á voragem das querelas partidárias.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Hintze Ribeiro chefia o 5ºGoverno

A demissão do governo de Dias Ferreira, significou o fim das soluções extra partidárias tentadas por D.Carlos I, voltado a designar governos de cariz partidário, neste caso procurou solução no âmbito do partido Regenerador.

Naturalmente o nome indicado seria o de Serpa Pimentel, mas o convite é dirigido a Hintze Ribeiro para a chefia do governo,que se iria encarregar igualmente da pasta dos Estrangeiros, enquanto para a importante pasta do Reino surgia o nome de João Franco.

Homens diferentes, Hintze açoriano e Franco beirão, caracterizado pelo sotaque que fazia as delicias da imprensa da oposição chamando-lhe o XOÂO.

Ambos bacharéis em direito pela Universidade de Coimbra, singraram rapidamente na política.

Ribeiro, mais velho 6 anos, sóbrio e grave era inexcedível em colocar um problema, metódico e claro. Franco, um grande orador, eloquente e de discurso fácil.
Finalmente, diga-se que as suas relações eram más, nem se falavam.

Aparentemente, João Franco, parecia á partida melhor colocado, para a chefia de um novo governo regenerador, por força da sua melhor colocação, junto da corte de influência do rei, onde pontificava a figura de Carlos Ávila (o Carlotinha) filho do conde de Valbom, um dos mais célebres lideres da esquerda portuguesa.

A razão porque D.Carlos preferia um governo Regenerador era porque, era esse partido que detinha a maioria no parlamento, muito embora Serpa Pimentel lhes não tivesse autoridade, enquanto líder do partido, daí com certeza a motivação de D.Carlos em convidar alguém que fosse minimamente credível no parlamento.

Segundo Rui Ramos António de Serpa Pimentel, terá amuado, por ter sido marginalizado, tentando negar ao governo a qualidade de Regenerador.

Para o professor Adelino Maltez, o rei terá convidado Serpa Pimentel e este é que terá recusado, por ser na altura administrador da companhia dos Caminhos de Ferro do Norte e Leste.

De qualquer forma o governo criado, não foi um governo Regenerador, foi mais uma vez um governo que se pretendia de compromisso, englobando antigos Regeneradores e também antigos Progressistas.

Augusto Fuschini,(Finanças) e Bernardino Machado(Obras públicas), maçons e com credenciais esquerdistas.
Neves Ferreira(Ultramar e Marinha) antigo governador de Moçambique
Completavam o leque governamental Pimentel Pinto(Guerra) e António Castelo Branco (Justiça), sobrinho de Camilo Castelo Branco.

Assim foi criado a 23 de Fevereiro de 1893 o 5º governo de D.Carlos I




quarta-feira, 11 de julho de 2007

Heliodoro Salgado-Teórico do livre-pensamento


Assim titula Amadeu Carvalho Homem um texto sobre Heliodoro Salgado, um nortenho nascido no concelho de Santo Tirso, que começou a sua carreira profissional pelo magistério primário, mas que cedo trocaria pela de jornalista, com colaboração em vários títulos.

Envolveu-se em diversas querelas por força dos artigos que publicava, valendo-lhe pelo menos em 2 ocasiões a penas de prisão.
A questão religiosa era nuclear no seu pensamento, exprimindo-se com ideias como :
  • a origem das ideias, têm origem nas sensações, que só nos referem o mundo material; logo não temos a mínima ideia do que serão substâncias espirituais.
  • declarando guerra a todas as todas as religiões em nome do livre-pensamento
  • associando todas as religiões , primeiramente com o despotismo teocrático, por suprimirem no homem a independência da razão e depois com a contestação política, natural no seu tempo, onde a influência católica se confundia com os princípios políticos.
Membro do Partido Republicano, praticamente desde o início, deu o seu contributo para a laicismo do republicanismo, essencial no seu ideário.Dificilmente haveria melhor teorização desses princípios laicos, do que o seu materialismo ateu exprimia.

Maçon, como não poderia deixar de ser, viria a falecer em Lisboa em 1906, correndo o boato que teria sido vitima duma verdadeira cabala clerical, transformou o seu enterro numa enorme manifestação popular.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Governo de Dias Ferreira-Janeiro de 1892


Este governo chefiado por Dias Ferreira, (bisavô de Manuela Ferreira Leite, que foi ministra das Finanças do governo de Durão Barroso), foi o governo da história recente da monarquia constitucional, que sujeitou o País a políticas mais violentas.

O governo foi apresentado a 18 de Janeiro de 1892 e logo a 30 desse mês Oliveira Martins, apresenta ao país "a extensão das nossas amarguras", equivalente a um défice de 10.000 contos, equivalente a 25% das receitas e uma dívida de 23.000 contos.
Para evitar a bancarrota, fora propostas algumas medidas
  • lançamento duma taxa entre 5 a 20%, sobre ordenados, soldos e pensões
  • dedução de 30% nos juros de dívida pública interna
  • adicionais de 10 a 20%, à contribuição pessoal, sumptuária, rendas de casa e industrias
  • corte em todas as despesas supérfluas de serviço público, como por exemplo o subsídio ao teatro S.Carlos
  • suspensão indefinidamente das admissões na função pública
  • estabelecer um acordo com os credores externos, para renegociar a dívida.
Também o rei, se solidarizou com a nação, cedendo 20% das suas despesas a inserir no orçamento, chegando mesmo a propor, uma nova fonte de receita, aos seus ministros, a instituição de um "bilhete de identidade"de apresentação obrigatória, pelos cidadãos em todos os actos públicos, contas por alto feitas por ele e a 100 réis cada bilhete, poderia render ao Estado cerca de 1000 contos num ano.

O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice , excluindo da venda apenas Angola e a Índia.


Havia algumas ideias, muito embora estas não tivessem seguimento, a miséria grassava no país e tornava-se necessário tomar medidas.

Com estas propostas Oliveira Martins também pretendia intimidar os partidos no parlamento, por forma a obter alguma acalmia política.