segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fundação do Sporting Clube de Portugal(1906)



Em Belas, a pré-história

Tudo começou em 1902, quando um grupo de jovens veraneantes em Belas, então um bucólico e ainda distante subúrbio de Lisboa, decidiram fundar um clube e disputar um jogo de foot-ball (assim se designava a modalidade) em Seteais integrado nas festas populares de Sintra.

Foi um jogo muito animado e com frequência considerada distinta – figuras da família real estiveram presentes – disputado entre o Sport Club de Belas, a designação que os desportistas em férias tinham dado à sua colectividade, e um grupo de Sintra. Vitória por 3-0 do Belas,

Os jovens veraneantes, pouco mais do que adolescentes, regressaram ao quotidiano lisboeta, mantendo-se em contacto pois muitos deles partilhavam a área residencial do Campo Grande e frequentavam tertúlia na Pastelaria Bijou, que ainda hoje existe na Avenida da Liberdade.

Foi aí que, quase dois anos depois da experiência de Belas, em 1904, os jovens amantes do desporto e do convívio ao ar livre decidiram voltar ao terreno e fundar o Campo Grande Football Club.

A sede do Campo Grande Football Club ficou instalada num quarto do segundo andar do Solar dos Pinto da Cunha, edifício que continua a definir a esquina entre a Alameda das Linhas de Torres e o Campo Grande.

Além dos irmãos Gavazzo, participaram na reunião fundadora o jovem José Holtreman Roquette (José Alvalade), José Stromp e outros entusiastas da prática desportiva. O Visconde de Alvalade, José Alfredo Holtreman, avô de José Alvalade, patriarca da família então já a caminho dos 70 anos, foi designado presidente, a título honorífico, pelo seu apoio desinteressado e a sua capacidade natural de entender e incentivar os anseios e espírito de iniciativa do neto e respectivos amigos.

Futebol, esgrima, ténis, corridas, saltos, festas sociais e piqueniques foram as principais actividades dinamizadas pelo novo clube durante os primeiros dois anos de existência.

A fundação

Em 1906 os ambientes turvaram-se e gerou-se uma divisão entre os membros que defendiam uma colectividade vocacionada para festas e actividades de convívio social e outros que insistiam na dedicação à vertente desportiva.

Explica Júlio de Araújo, mais tarde presidente do Sporting, historiando o processo da fundação, que «dia-a-dia se acentuavam duas tendências: a dos rapazes de Lisboa, que desejavam a sede na Baixa; outra, a dos do Campo Grande, que a pretendiam naquele local, como seria justo e aconselhável». Além disso, de acordo ainda com a narrativa de Júlio de Araújo, «o desentendimento prevaleceu não somente quanto à sede, mas também quanto à forma de ser do Clube, visto que os de Lisboa, ao contrário dos do Campo Grande, mais se interessavam pelas festas do que pelas práticas desportivas».

Da turbulência nasceu uma cisão. José Gavazzo demitiu-se, acompanhado por mais cerca de duas dezenas de membros. Um deles foi José Alvalade que, sem demora, anunciou: «Vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para fazer outro Clube.»

Decisão que foi recompensada. O Visconde de Alvalade tutelou a criação do novo clube, depositou nas mãos do neto uma importante quantia em dinheiro, disponibilizou os terrenos para o campo de jogos na sua própria quinta – o Sporting ainda hoje continua a “morar” na mesma zona – e ficou como presidente da Direcção e como “Sócio Protector”.

Foi então que o jovem José Alvalade, num rasgo de entusiasmo aliado ao êxito das suas iniciativas, mas que se revelou de grande visão histórica, proferiu o célebre voto: «Queremos que este Clube seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa.»

Em 14 de Abril de 1906 a recém-criada colectividade adoptou a designação provisória de Campo Grande Sporting Club.

A 1 de Julho do mesmo ano, por sugestão de António Félix da Costa Júnior, passou a chamar-se Sporting Clube de Portugal. Em Julho de 1920, por proposta de Nuno Soares Júnior, a Assembleia Geral adoptou a data de 1 de Julho de 1906 como a da fundação oficial do Sporting. Foram 18 os fundadores

Ambição e dinâmica de vitória
O Sporting Clube de Portugal comemorou, portanto, cem anos bem contados, com respeito pelo rigor histórico. Outros somam anos a partir da fundação de entidades que lhes deram origem ou ignoram longos períodos de inactividade que se seguiram a uma efémera existência. São critérios. Para ser mais “idoso”, como outros se dizem, o Sporting poderia ter fixado como data da sua fundação a do Sport Club de Belas (1902) ou mesmo a do Campo Grande Sporting Club (1904), mas não o fez.

Nesses dias de 1906 ficou traçado o caminho: futebol sim, mas eclectismo também, correspondendo à vocação atlética multidisciplinar de alguns dos seus fundadores. Eles eram ao mesmo tempo dirigentes e atletas, jogavam futebol, faziam atletismo, praticavam ténis, tracção à corda, esgrima, críquete, ginástica, hóquei em campo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Acontecimentos no ano de 1906(I)

  • Apresentação dos novos ministro na Câmara dos Deputados (02/07)

A situação de governação sem parlamento, não era do agrado de D.Carlos I, que não via qualquer tipo de vantagem nos governos em "ditadura", como se chamava na altura, ao acto de governação sem parlamento, assim como também não via qualquer interesse na dissolução da respectiva Câmara.

A "solução" que ocorrera no final do ano d 1905, foi algo também pouco inédito, demissão do primeiro-ministro e a imediata nomeação do mesmo, que permitia ao chefe do governo, remodelar o respectivo executivo, leia-se sobretudo reavaliação de alianças.

Assim aconteceu, aproveitando José Luciano de Castro para nomear novos membros do Partido Progressista por "acaso", o conde de Penha Garcia (primo de João Franco) e António Cabral (amigo de Alpoim), aparentemente com o objectivo de acalmar a Dissidência oposicionista.

Como entretanto a Câmara de Deputados reabrira a 31 de Janeiro de 1906, logo em 2 de Fevereiro, os novos ministros foram apresentados, no meio de grande tumulto, com José Maria Alpoim a gritar das galerias "Fora o chefe dos ladrões".

Ainda a sempre presente questão do Tabacos, se mantinha na ordem do dia.

  • A demissão do governo de José Luciano de Castro
O incidente na Câmara de Deputados, conduz a que Luciano de Castro, tentado tirar partido da situação proponha ao rei a dissolução dessa Câmara o que significaria marcação de eleições a curto prazo. D.Carlos l, remeteu o assunto para o Conselho de Estado que recusou a dissolução por sete votos contra quatro, mas mesmo assim o Rei cede à pretensão de Luciano de Castro, marcando novas Cortes para 1 de Junho, sem contudo esclarecer qual a data da eleição,

Esta atitude favorável à pretensão do primeiro ministro, vem acicatar contra D.Carlos, todo o odioso da questão, como encobridor de ladrões, segundo a oposição quer monárquica quer republicana.

As manifestação públicas de repúdio ao rei aconteciam por toda a parte, nas suas aparições públicas, fosse a simples passagem em carruagem, ou aparição em espectáculos públicos, gerava situações de grande hostilidade.

Hintze Ribeiro chefe dos Regeneradores, mantém nesta crise, uma atitude prudente, sem antagonizar o governo, pretendendo construir a imagem do único Partido organizado e sério da Monarquia, chegando a propor uma coligação das oposições monárquicas em defesa do rei que o governo comprometera. Coligação contudo desde que não incluísse João Franco.

A tentativa de D.Carlos, para resolver a questão do governo, passava pela saída que se encontrasse para a "eterna" solução dos tabacos. Sabe-se que terá sugerido a Hintze Ribeiro, que deixasse passar no parlamento a assunto dos tabacos, a que se seguiria a demissão de Luciano de Castro e a nomeação de Ribeiro para primeiro-ministro. Caso não aceitasse, seria nomeado e ou acabava por resolver o assunto tabacos, ou daria o seu lugar a João Franco.

A recusa de Hintze e a necessidade do Rei em corresponder ao convite Espanhol, para uma visita oficial, veio suspender a questão até ao regresso do rei no dia 16 de Março.

Contudo estava bem claro, pelo menos para Ministros mais próximos do Rei, que era sua intenção demitir José Luciano de Castro.

Avisado este, no dia seguinte à chegada de D.Carlos de Madrid, apresenta-se no paço, para cumprir o ritual do pedido de demissão. Pede ao rei que meio para governar em ditadura, sancionando alguma medidas de carácter administrativo, perante a recusa do Rei, Luciano de Castro demite-se.