segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Acontecimentos no ano de 1906(II)

*-O segundo e último governo de Hintze Ribeiro

Em 20 de Março de 1906 Hintze Ribeiro, volta a ser empossado como presidente do conselho de ministros do Reino, cargo que abandonara em Outubro de 1904, motivando o desespero, tanto de José Luciano como de João Franco, mas alegria de outros como Alpoim, que via agora com muito bons olhos o facto de diálogo político e a alternância rotativista, ter segundo ele novos protagonista Hintze e ele próprio.

A continuação da questão dos tabacos e que o rei previra lhe iria cair nas mãos, já que Hintze não se dispusera a deixar passar no parlamento a solução de José Luciano.

Hintze mandara abrir um novo concurso para a adjudicação do monopólio dos tabacos.

Dois factos aconteceram então, que lhe causaram enorme desgosto, a insubordinação, em 8 de Abril, da guarnição do cruzador D. Carlos. Ancorado no Tejo e aproveitando a ausência dos oficiais em terra, a tripulação toma conta do navio, aparentemente porque o comandante impedira que prostitutas pudessem ir a bordo, como era costume.

No dia 13 a revolta da guarnição do couraçado Vasco da Gama, correndo boatos duma conspiração, dizendo-se que fora Alpoim que estava por detrás da pretensão, aliás de vez em quando ventilada, da substituição de D.Carlos pelo príncipe herdeiro D.Luís Filipe.

"Como se valesse a pena em qualquer país monárquico fazer uma conjura para substituir um rei por outro", dizia o visado para se defender.

Este factos da maior gravidade, ocorridos a bordo dos mais poderosos navios da nossa marinha de guerra, que puseram em sobressalto a população de Lisboa, e teve dolorosas consequências e promoveram violentos ataques contra Hintze Ribeiro de toda a imprensa, tanto republicana como monárquica, que fizeram abalar bastante a saúde precária de Ribeiro.

*-A formação da "Coligação Liberal"

No princípio de Abril é anunciada uma coligação entre Progressistas e Franquistas, que começara a desenhar-se quando o partido Progressista, desencadeando o processo de vingança prometido por José Luciano, abre negociações com João Franco, que aceitou, indo contudo ainda mais longe, propondo fusão entre as duas formações.

Um novo Pacto da Granja como oque dera origem em 1876 à própria formação Progressista, resultante da fusão entre Históricos e Reformistas.

Tal porém não foi aceite por Luciano, ficando-se pela simples aliança, que para já iriam reunir forças nas eleições que iriam decorrer a 29 de Abril.

*-Eleições em 29 de Abril de 1906 e as consequências

É nestas circunstâncias que se desenrola a luta eleitoral, onde são imponentes os comícios republicanos, realizados em Lisboa, no dia 22 de Abril. Os governamentais hintzáceos conseguiram uma confortável maioria de 105 deputados contra 17 progressistas lucianistas e 7 franquistas (todos estes eleitos por Lisboa), para além de 9 dissidentes progressistas, 6 nacionalistas, 2 independentes, 1 miguelista.

Os republicanos, apesar de aumentarem a votação urbana, continuaram a não conseguir eleger deputados, em virtude dos grandes círculos plurinominais e da sua não penetração junto do eleitorado rural.

Bernardino Machado, já então republicano, chegou a ser formalmente eleito no Peral(Azambuja), mas renunciou ao mandato, quando se provou ter havido uma enorme chapelada promovida pelo governo, para fingir imparcialidade, com três vezes mais votos que os eleitores inscritos.

Efectivamente, os Republicanos renegaram este favor do governo, insinuando que a chapelada da Azambuja se destinara a impedir a eleição de Afonso Costa, pelo que Bernardino Machado comprometido , resgatou a sua honra, recusando a eleição.

À sua chegada a Lisboa ocorreram enormes manifestações em frente à estação do Rossio, com confrontos com a polícia, que levaram o comandante da polícia a dizer que fora Hintze que o instruíra para prevenir os manifestantes que só seriam permitidos "vivas e palmas", nada de gritos subversivos

Dois dias depois, na praça de touros do Campo Pequeno, os espectadores voltam a costas ostensivamente à família real, para ovacionarem Afonso Costa.




2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho especial simpatia pela notável figura do Rei Dom Carlos, e andei por isso a cheirar este espaço, um prazer que me encanta. Enalteço a sua grande capacidade de produzir e manter tantos blogues com supina qualidade!

Luís Maia disse...

Meu caro Jofre

É uma questão de organização blogueira, para que as matérias se não misturem.

Dá um bocado de trabalho, mas quem corre por gosto ...

um abraço