terça-feira, 7 de agosto de 2007

As guerras de Pacificação em Moçambique


O tratado luso-britânico de 1891 havia proposto uma nova delimitação de fronteiras em Moçambique, mas as sucessivas revoltas de diversas etnias naquele território, que naturalmente e independentemente de não aceitarem ser colonizadas mas que por outro lado, queriam tirar partido de querelas territoriais sobretudo entre Portugal e os Britânicos, não facilitavam a vida a Portugal.

Em 14 de Outubro de 1894 grupos indígenas chegaram a sitiar e saquear Lourenço Marques que só não foi completamente destruída, graças à intervenção dos barcos de guerra portugueses fundeados no porto que dos seus navios bombardearam os atacantes, obrigando-os a retirar.

O comissário régio para Moçambique, António Enes tinha naturalmente como principal missão a pacificação daquele território.

A população portuguesa era diminuta e foi necessário reforçar o contingente armado com tropas enviadas de Portugal, em cerca de 3000 homens número avultado, para a época.

O contra-ataque aconteceu sob o comando de Caldas Xavier que obtém uma vitória de relevo em Marraquene a 2 de Fevereiro de 1895 e onde já participaram alguns vultos da história militar que iriam ter grande destaque, na guerra que seria conhecida como a da Pacificação dos nativos.

Essa vitória sobre os Landins, nas margens do rio Incomati, não acabou com a resistência desse grupo étnico, que continuaram combatendo na região, pelo que a campanha portuguesa continuou agora sob o comando de Freire de Andrade e Paiva Couceiro.

Nova batalha em Magul a 8 de Setembro de 1895 que aumentou o prestígio militar português, pois faça-se ideia do que teria sido por-se a circular a notícia que o celebre quadrado militar português com apenas 320 homens, havia de derrotar cerca de 6000 nativos.

Uma vez derrotados os Landins, havia que dominar os Vátuas do poderoso Gungunhana, que contava com milhares de guerreiros. Novas vitórias aconteceram sempre o número desproporcionado das forças em combate elevavam o grau de heroicidade nacional ,muito embora o governador Enes reconhecesse que tinham sido "rápidos duelos entre o moderno armamento europeu e a força bruta do número".

O epílogo na guerra contra os Vátuas, aconteceu em Chaimite em 27 de Dezembro de 1895 quando Mouzinho de Albuquerque aprisionou o régulo Gungunhana, num episódio por demais conhecido em que para o humilhar mandou o poderoso régulo sentar-se no chão, levando-o preso para Lourenço Marques e mais tarde para Lisboa

A 4 de Abril de 1953 foi estreado no Monumental, em Lisboa, o filme Chaimite, rodado em Moçambique, do realizador Jorge Brum do Canto.

Lembro-me de ter visto este filme em miúdo e da resposta de Gungunhana à ordem de Mouzinho de Albuquerque para se sentar, disse "Está sujo".

3 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Sobre esta temática tão interessante, recordo também o filme que refere, visto por mim na mesma altura.
Contudo, mais do que o filme, impressionou-me o facto de o patrono do meu curso de entrada na Academia Militar ter sido Mouzinho de Albuquerque e continuo a recomendar, como melhor biografia, desse grande Capitão de África, o livro do general Ferreira Martins «Mouzinho», 2.ª ed. Lisboa: Edições Excelsior, s. d. que já só se pode comprar em alfarrabistas.
Existe uma biografia excessivamente "nacionalista" da autoria de Mário Gonçalves Viana, mais antiga do que a 2.ª edição antes referida, editada no Porto pela Editora Educação Nacional, em 1938. Presentemente, mas muito mais "pobre" do que qualquer das duas obras antes referidas, foi editado o livro «Mouzinho de Albuquerque» da autoria do TCor. António Pires Nunes, saído em Lisboa, com a chancela da Prefácio.
Na minha opinião, haverá que ter-se grandes cautelas ao tratar-se destas temáticas africanas, pois que muitos dos "heróis" foram-no fruto da necessidade que Portugal tinha de fazer alarde público da acção de ocupação efectiva dos territórios para estar em consonância com a decisão tomada na Conferência de Berlim, em 1885, garantindo, assim, a posse do seu Império Colonial.

Luís Maia disse...

Agradeço a sua colaboração, bem como as preciosas indicações que me deu.
Realmente pretendo continuar a falar sobre este tema e na forma como a monarquia vai agarrar esta bandeira da heroicidade, indiscutível face aos recursos, ás forças em conflito, muito embora o factor civilização fosse importante,(para a Itália não foi nesta altura).
Tento seguir a evolução cronológica, porque me parece mais interessante e mais leve, para quem lê estas coisas pela primeira vez.(O grande objectivo)
A seu tempo falarei da chegada de Mouzinho a Lisboa e também do seu suicídio.

Não considere abusivo o meu convite, mas se entender possível dar uma mãozinha agradeço.

Quanto mais não seja lincando-se postagens (este português moderno tem que se lhe diga) entre ambos.

Não estou enganado Mouzinho é o patrono da arma de Cavalaria, não é ?

Luís Alves de Fraga disse...

Efectivamente, Mouzinho de Albuquerque é o patrono da Arma de Cavalaria o que não impediu o Comando da Academia Militar de, no ano lectivo de 1961/62, fazer dele também patrono do curso de todos os alunos admitidos naquele distante Outubro.
Na época, no Aquartelamento da Amadora (onde éramos cerca de 500 alunos) figuravam, em diferentes paredes, bonitas reproduções da carta que Mouzinho escreveu ao príncipe real D. Luís Filipe.
Os mais argutos de nós percebiam, claramente, que aquela exemplar epístola nos era duplamente direccionada: enquanto futuros oficiais e enquanto cadetes de Portugal, ou seja, enquanto militares e enquanto formandos de militares.
É claro que surtiu efeito em muitos, mas, poucos anos mais tarde, levou-nos a assumir a posição política inversa à de Mouzinho de Albuquerque em relação ao Ultramar, numa prova clara e irrefutável de que a História jamais se repete, passando pelos mesmos trilhos do passado.
Não o incomodo mais.