quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Acontecimentos no ano de 1895-(1ºparte)


  • Janeiro,07 - João Crisóstomo, antigo presidente do conselho, morre
João Crisóstomo de Abreu e Sousa foi oficial de Engenharia e político, tendo entrado para a Câmara dos Deputados em 1861.

No 25.º Governo Constitucional, durante o reinado de D. Pedro V, foi Ministro da Marinha e Ultramar e das Obras Públicas, Comércio e Indústria (1864-1865).

Enquanto detentor destas pastas promoveu várias reformas legislativas como, por exemplo, uma reforma do ensino industrial.

Durante o reinado de D. Luís I, no 37.º Governo Constitucional, foi Ministro da Guerra.


Após o Ultimato inglês e a demissão do governo de José Luciano de Castro, João Crisóstomo presidiu a um governo nacional extrapartidário em 1890.

  • Janeiro,10-Novo Código de Justiça Militar, restabelecendo a pena de morte, revogando-se o artigo 16 do Acto Adicional. Os Conselhos de Guerra passam a ser competentes para crimes contra a segurança do Estado cometidos por civis.
  • Janeiro, 12 - Manifestação de solidariedade de oficiais da Armada depois da absolvição do comandante Augusto Castilho,preso à chegada a Lisboa, no ano anterior, por ter ajudado na revolta dos marinheiros brasileiros.
  • Janeiro,13-António Enes desembarca em Lourenço Marques, como comissário régio, com o propósito de atacar o régulo Gungunhana, chefe dos Xanganas, que ameaçava transformar o seu reino num protectorado britânico.
Num relatório seu publicado em 1893, na qualidade de comissário régio nomeado desde 1891, com o encargo de proceder à execução do tratado anglo-português, nesse relatório dizia que não bastava promulgar leis para melhorar a situação sendo indispensável a sua entrega a homens com a necessária capacidade intelectual e moral para a dirigirem, numa crítica contundente dirigida à anteriores administrações ultramarinas.

Por certo o conteúdo desse relatório contribuiu para a sua nova nomeação que vira a dizer mais tarde nas suas memórias "estranha ás minhas aptidões profissionais, arredada da minha carreira pública, antipática ao meu carácter pacífico"
  • Janeiro,17-Ferreira de Almeida na marinha e ultramar em lugar de Neves Ferreira. Defenderá que o país não pode administrar os territórios ultramarinos no número existente.
José Bento Ferreira d’Almeida (1847/1902) – Nascido em Faro, em prédio da Praça Ferreira d’Almeida (antes designada Terreiro da Cadeia, Largo da Cadeia, Praça Silva Porto e Largo da Palmeira). Este militar e político era dotado de espírito conflituoso que o levou mesmo a agredir o Ministro da Marinha em pleno Parlamento. Governador de Moçamedes, Deputado e Par do Reino, Ferreira d’Almeida, que foi Ministro da Marinha, em 1895, e, nessa qualidade, fundou em Faro a Escola de Alunos Marinheiros do Sul, caracterizou-se por atitudes, como a de propor às Cortes a venda de Moçambique (o que não foi muito bem aceite na época)ou a de abolir os castigos corporais que ainda estavam em uso na Armada

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Acontecimentos no ano de 1893(5ª Parte)

  • Outubro,17-João Franco em nome da presumível ameaça anarquista, defende que sejam aplicados meios extraordinários de governo.
  • Novembro,30-Liga liberal publica moção de apoio ao ministro Augusto Fuschini.
  • Dezembro,07-Dissolução da Câmara dos Deputados, são marcadas eleições para 7 de Março de 1894.
  • Dezembro,20-Augusto Fuschini e Bernardino Machado demitem-se do governo.
Pela vastidão dos conhecimentos económicos, de Augusto Fuschini e pelas apreciações publicas que tinha feito do estado do país, quer sob o ponto de vista da sua política interna e externa, quer a respeito das suas finanças, houve um movimento de interesse e curiosidade, esperando-se que o novo estadista convertesse em factos, as teorias que vinha sustentando.

A sua passagem pelo poder foi rápida, saindo do ministério por circunstâncias que ele largamente expôs no seu livro Liquidações políticas, que publicou em 1896.

Bernardino Machado, foi ministro das obras publicas em 1893, e a ele se deve o decreto que autorizou a organização da exposição industrial portuguesa, que nesse ano se realizou nos salões do Museu Industrial e Comercial, instalado no edifício dos Jerónimos, cuja exposição se inaugurou no dia 28 de Julho.

Durante o seu ministério prestou bons serviços entre os quais se contam: a criação de algumas escolas industriais, o desenvolvimento da sericultura em Mirandela, Guarda e Coimbra, etc.

Publicou três decretos em protecção ao operariado: regulando o trabalho das mulheres e dos menores nas fabricas industriais, regulando as bolsas do trabalho.
(respigado do portal da História)
  • Dezembro,20-Remodelação governamental-Hintze na Fazenda, Correia Arouca no estrangeiros e Lobo Ávila nas obras públicas.
Depois de muita intriga e jogo de bastidores, o conhecido filho do Conde Valbom, Lobo Ávila, conhecido como o Carlotinha pelas sua presumível homossexualidade, é nomeado ministro das Obras Públicas em substituição de Bernardino Machado.

Correia Arouca volta a governo para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, e o ministro Hintze Ribeiro acumula a pasta da fazenda em substituição de Fuschini


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Acontecimentos no ano de 1893(4ªParte)

  • Maio,15-Reabertura das Cortes. Apresentadas as propostas de reforma da fazenda pública.
Depois dum interregno de quase três meses o governo volta com um programa intenso de agravamento de impostos. As associações Comerciais e Industriais e dos Lojistas protestam e Augusto Fuschini foi desde logo obrigado a desistir do agravamento da contribuição predial, também por igual pressão interna pela parte de João Franco e Hintze, que temiam excitação dos "distritos do norte".
  • Maio,20-Acordo com os credores externos da dívida pública portuguesa.
O próprio rei acompanhou com cuidado as negociações com os negociadores com os credores externos, recomendado que a dignidade do País fosse sempre respeitada
  • Junho,24-Reunião dos republicanos espanhóis em Badajoz contribui para o descrédito dos republicanos portugueses, pelas ilações que a presença de alguns republicanos portugueses como Eduardo de Abreu, Jacinto Nunes, Teixeira de Queirós, Gomes da Silva, Magalhães Lima, Feio Terenas e Cunha e Costa entre outros, onde se defendeu a necessidade de instauração de uma federação ibérica.
  • Junho,27-Conferência do agrónomo Louis Grandeau na Sociedade de Geografia de Lisboa sobre a cultura do trigo.

Grande cientista aplica os seus conhecimentos com doutoramentos também em medicina e farmácia, na reformulação de novos conceitos agrícolas, introduzindo produtos químicos na produção agrícola com vista a aumentar a sua produtividade.
  • Julho-Lei que delimita a liberdade de reunião.
As constantes notícias sobre a eventualidade duma bancarrota, fazem aumentar o efeitos da propaganda socialista sobre a necessidade da sua institucionalização. Assim os organizadores passaram a ter a obrigação de informar as "autoridades", governador civíl ou administrador de concelho da organização as suas reuniões com 24 ou 48 horas de antecedência.

domingo, 4 de novembro de 2007

Morte de Rosa Araújo-Um Político como já não há(1893)


Filho dum rico comerciante, desde novo se interessou pela política veementemente discutida na confeitaria de seu pai, na rua de S. Nicolau, (nos actuais números 44 e 48) em Lisboa, levando-o a participar na revolução da Maria da Fonte em 1846 e a sócio do Clube dos Camilos.

Grande militante do associativismo, era membro de várias entidades que mais serviços prestavam aos mais desfavorecidos.


A Confeitaria conhecida pela Confeitaria Cocó, vêm do tempo do seu avô, pelo facto dele chamar da porta da sua loja os rapazes que por ali passavam para lhes dar um rebuçado, um cocó, como ele dizia.


Mais tarde este apodo passou a nomear a gloriosa especialidade da casa – os célebres pastéis de ovos finíssimo e gostosíssimo folhado, obra-prima da doçaria nacional.


Foi vereador da câmara de Lisboa, depois seu Presidente, estando associado à reformulação da Avenida da Liberdade, que tinha outra configuração arquitectónica do tempo do Passeio Público pombalino.

Um dia, em 24 de Julho de 1879, inauguraram-se as obras do grande empreendimento com a demolição do Teatro Variedades e da velha Praça do Salitre. Vinte e dois contos, (…) foi a quantia que a Câmara despendeu com a expropriação daqueles dois edifícios e foi também a quantia que ela ficou a dever, na ocasião, ao presidente da sua vereação. Depois procedeu-se à demolição dos prédios da rua do Salitre, rua que chegava até à das Pretas, e em seguida à dos que existiam na praça da Alegria de Baixo.


Rosa Araújo, tinha uma grande fortuna herdada de seu pai, não só através da referida confeitaria, como também duma casa bancária que estabelecera na rua do Arco Bandeira em Lisboa, porém a sua extrema bondade fazia com que a sua bolsa estivesse sempre aberta aos que dela necessitavam. de tal forma que a fortuna chegou a estar muito comprometida, levando-o quase à pobreza.


Imagine o funeral deste homem, falecido em 26 de Janeiro de 1893, com apenas 52 anos. O primeiro enterro que teve licença de passar pelo centro da Avenida da Liberdade foi o do próprio José Gregório da Rosa Araújo.


A confeitaria lá continuou a fazer o seu negócio, a vender os seus afamados folhados com doce de ovos, os seus inimitáveis cocós, primeiro sob a administração do Tribunal do Comércio, depois, e por longos anos, como propriedade de Isidro Mendes da Silva, antigo empregado da casa, que em certa altura a trespassou a Tomaz Ferreira de Lima a quem sucedeu sua viúva que teve como associado na gerência da casa o Sr. Baptista Pinto.

Em 1938 fechou as suas portas; contava 105 anos de idade.
Hoje está lá um bar e para vergonha desta cidade onde entre os seus defeitos ou as suas qualidades ainda avulta a inconsciência, os seus proprietários adoptaram para título comercial os apelidos do antigo presidente da Câmara Municipal! Bar Rosa Araújo! Como isto por não nos poder indignar, nos confrange.

( publicado do blog da Junta de Freguesia de São José)

Acontecimentos no ano de 1893-(1ª Parte)

Acontecimentos em Portugal-(Janeiro a Abril)
  • Janeiro,01-Oliveira Martins publica o artigo “El-rei D.Carlos”.
Publica artigo na Semana Ilustrada, suplemento dominical do Jornal do Comércio, de Henrique Burnay (1837-1909), onde incita D. Carlos à ditadura. Aliás, parece unânime a rejeição do que está. Se uns falam na revolução vinda de baixo, outros apelam para a revolução vinda de cima. Tudo se tenta e no poder até estão proponentes da terapêutica intervencionista que, contudo, parecem não a saber operar.
(para ver notícia de referência clicar aqui)
  • Janeiro,14-Morte de José Falcão
Professor de Matemática na Universidade de Coimbra, nasceu em Miranda do Corvo grande defensor das ideias republicanas. Foi ele o encarregado de reorganizar o partido republicano no Porto, após a revolta falhada do 31 de Janeiro.
Teórico republicano publicou em 1884 a Cartilha do Povo um documento importante da propaganda republicana bem como vários artigos e o próprio Manifesto.
Proposto para deputado em 1892 a morte aos 51 anos veio por fim à sua vida

  • Fevereiro,01-Fundado o periódico católico Correio Nacional, visando dar apoio à constituição do projecto de Centro Parlamentar Católico, iniciativa de Henrique Barros Gomes, Jeronimo Pimentel e do conde de Casal Ribeiro, mas que acaba por fracassar.


domingo, 7 de outubro de 2007

Acontecimentos ano 1889



Outubro,19-Morte de D.Luís I e início do reinado de D.Carlos I que durará 19 anos

Outubro,20-Eleições legislativas com vitória do partido progressista. Os republicanos mantêm 2 deputados

ver resultados das eleições clicando aqui

Novembro,03-Eleições municipais

Novembro,08-Expedição de Serpa Pinto e Álvaro Castelões à região do Largo Niassa é atacada pelos Macolocos.


Novembro,11-Remodelação governamental.

Novembro,15-Nasce em Lisboa o infante D.Manuel, filho de D.Carlos I e D.Amélia.

Novembro 25-O governo britânico protesta pela decisão de Portugal de considerar os territórios entre Angola e Moçambique dependentes de Portugal.

Novembro,29-Barros Gomes, enviou ao embaixador em Londres, Luís de Soveral, a justificar o ponto de vista português, na questão do Mapa Cor-de-Rosa.

Dezembro,07-Chega a Lisboa o Imperador do Brasil D.Pedro II, deposto no dia 15 de Novembro, por golpe militar republicano

Dezembro,11-O governo britânico declara não permitir que os seus direitos fossem postos em causa, na questão do Mapa Cor-de-Rosa.

Dezembro,18-Confirmação solene do baptismo do infante D.Manuel na capela do Paço de Belém.

Dezembro,28-Cerimónia de aclamação de D.Carlos como rei.








domingo, 23 de setembro de 2007

Luz de Almeida e a Carbonária Portuguesa

(Bandeira da Carbonária-o fogo, o carvão e o céu)

Luz de Almeida, nascido em Alenquer, era filho dum regente escolar e aos 6 anos veio para Lisboa acabando por se formar em Letras com distinção, sendo colocado depois disso na Biblioteca Municipal como bibliotecário-arquivista.

Republicano desde estudante, acaba por se filiar na Maçonaria Académica, que acaba por vir a chefiar, numa altura em que era ainda estudante de Letras.

Desde essa altura em que foi eleito presidente da Maçonaria Académica e mais tarde da Carbonária Portuguesa, será o chefe máximo dessa poderosa associação secreta que se estimou contar em 1910 com cerca de 40.000 membros.


O que não se esperaria olhando a figura discreta e tímida deste bibliotecário.

Foi desta Maçonaria Académica e da Maçonaria Florestal, por recorrência de origens italianas e que ali se propagou desde 1800, viria a nascer a Carbonária Portuguesa.

Transitaria portanto Luz de Almeida da presidência da Maçonaria Académica para a presidência da Carbonária Portuguesa.

Luz de Almeida um bibliotecário, emerge como Grão-Mestre desta Carbonária Portuguesa, António Maria da Silva, representante da Venda Jovem Portugal (corpo legislativo) e Machado Santos, representante da Alta Venda (poder executivo), foram as principais figuras desse movimento no seu princípio.

Mas o movimento Carbonário em Portugal, também tem o seu lado obscuro e controverso.

Teve alguma actividade durante a primeira metade do século 19, mas entrou em declínio, até ao Ultimatum de 1890.

Renasceu depois disso, dando-se conta dum movimento minimamente organizado que aconteceu em Coimbra em 1895 no rescaldo da revolta do Porto em 1891, por iniciativa do médico Afonso de Lemos.


Outros apontam Agosto de 1896 como data refundadora para o movimento carbonário, pela mão de José Nunes um jornalista maçon e de Heliodoro Salgado dando origem a uma Liga Progresso e Liberdade, mãe da Carbonária Portuguesa.


Esta é a versão apresentada por José Nunes, explicando que depois, por iniciativa de Heliodoro Salgado, que decide autonomizar os grupos conspirativos que entretanto tinham surgido, que surge um desses grupos chamado Carbonária Lusitana, segundo ele a Carbonária "que fez a revolução".

Isso mesmo ,para que a confusão se não instale, falei de 2 carbonárias a Lusitana e a Portuguesa , ainda não falei em união.

Acontece que a Lusitana assumia um carácter mais revolucionário constituída maioritariamente por operários anarquistas, daí o ser conhecida como a Carbonária dos Anarquistas, ao passo que a Portuguesa
seguia uma linha mais reformista.

Curiosamente, sendo um dos movimentos que mais contribuiu para a queda da Monarquia, no dia 5 de Outubro de 1910, data da revolução que viria a assinalar a implantação da Republica em Portugal, não teve a participação de Luz de Almeida que se encontrava nessa altura exilado em França.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ideia geral sobre o governo de Luciano de Castro

(Augusto José da Cunha)

Muito embora viessem a ter uma larga maioria nas eleições de 2 de Maio de 1897, desta feita José Luciano de Castro e o Partido Progressista já não sentia necessidade de eleger deputados republicanos, com ou sem União Liberal como tinha acontecido nas eleições de 1890 e de 1894.

Da anterior governação, o governo manteve a rédea curta com o célebre juiz Veiga à frente da Instrução Criminal que mandava apreender ou fechar jornais por "ofensas às instituições", ou a lei que continuava em vigor que permitia deportar quem fizesse propaganda anarquista.

A anterior luta enquanto oposição contra qualquer condicionamento ao direito à opinião, transformava agora os Progressistas em arautos doutra mensagem "a liberdade não manda consentir os insultos dos que injuriam o poder".

Havia contudo algo que preocupava José Luciano, os documentos da cumplicidade antiga com o que, ao que parece, os jornalistas republicanos faziam chantagem com o governo, por forma a limitar a sua acção no que aquele partido dizia respeito.

Continuavam os republicanos, enquanto partido, a não ter força suficiente para assustar quer a coroa, quer o governo, pois continuava presente a ideia que aquele partido, não passava duns jornalistas de Lisboa e Porto, com influência apenas nessa urbes.

O rei era aconselhado a manter os Progressistas, mais tempo no poder, para que uma breve passagem não se traduzisse numa eventual migração de simpatizantes rurais insatisfeitos, para as fileiras republicanas na província.

Neste período destaca-se a figura de Augusto José da Cunha, figura central nesta teia de compromissos que envolvia a coroa também.

Cunha havia sido professor do rei D.Carlos. Luciano de Castro nomeou-o em 1899 director do Banco de Portugal, após ter saído de Ministro das Obras Públicas, cargo para que tinha sido nomeado no início do governo em 7 de Fevereiro de 1897.

Viria a descobrir-se, anos mais tarde que, para além de ter arranjado fundos para o Partido Republicano fazer uma revolução, fora um dos Ministros da Fazenda na sua primeira passagem por outro governo de Luciano de Castro, que mais dinheiro adiantara a D.Carlos.


Augusto José da Cunha viria a aderir ao Partido Republicano em 1907

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Novo governo Progressista

Pelo facto de D.Carlos não ter sancionado uma proposta de nomeação de novos pares do reino, levam o governo de Hintze Ribeiro a pedir a demissão.

Significava o fim de quatro anos de governo regenerador e o regresso do Partido Progressista ao poder, tomando posse pela mão do seu líder José Luciano de Castro, que tomou posse no dia 7 de Fevereiro de 1897.

Teoricamente , será a oportunidade para a subida ao poder da coligação liberal que existia desde 1895 entre os Progressistas e os Republicanos. A verdade é que a propaganda republicana reclamaria que as promessas de abertura feitas no tempo da coligação não estariam a ser cumpridas.

José Luciano de Castro forma um governo composto por velhos Progressistas, quase todos já antigos ministros. O rei concedeu-lhe poderes para dissolver a Câmara dos Deputados e fazer eleger uma nova maioria.

Governo de José Luciano. Até 26 de Junho de 1900 Presidente acumula o reino. numa primeira fase:
Veiga Beirão na Justiça
Frederico Ressano Garcia, na fazenda
Barros Gomes na marinha e ultramar
Augusto José da Cunha, antigo mestre de D. Carlos e director da Casa da Moeda, nas obras públicas.
General Francisco Maria Dias da Cunha, antigo governador da índia e de Moçambique, na guerra.
Matias de Carvalho e Vasconcelos nos estrangeiros

(retirado de http://maltez.info/respublica/Cepp/anuario/secxix/ano1897.htm)


Sobretudo e o mais importante foi a autorização para destruir a legislação que havia sido criada pelo Regeneradores, restaurado o que havia sido abolido e abolido o que tinha sido criado de novo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O regresso de Enes o herói civíl


António Enes iniciou-se na vida política activa como Ministro da Marinha e do Ultramar no governo de João Crisóstomo de 1890. Não era contudo um desconhecido, atendendo à sua actividade como jornalista e homem de polémica.

Uma das causas nacionais, era, claro, a questão colonial, já que defendia que não se deviam conservar domínios ultramarinos, que apenas representassem encargos e responsabilidades, se tal fosse baseado apenas no amor próprio nacional ou no acanhado respeito pelas tradições. Segundo ele mais valeria aconselhar o governo a que antes venda, troque, dê, abandone esses territórios, especialmente se puder conseguir que tome conta deles quem nos possa vingar dos ingleses.

Após a assinatura do tratado de Maio de 1891 é Enes nomeado comissário régio em Moçambique para proceder á execução desse tratado e proceder à delimitação das fronteiras nele contido.


No seu tempo de comissário régio em Moçambique se conta o das chamadas campanhas de África que segundo ele tinham conseguido para Portugal vastos territórios, mas sobretudo restaurara o prestígio português em África.

António Enes regressa a Portugal em Janeiro de 1896, recebendo os aplausos públicos pelo desempenho na guerra de Moçambique, partindo ainda durante esse ano para O Brasil para ocupar o lugar de ministro de Portugal, onde se irá manter cerca de 2 anos.

É o primeiro dos heróis de Moçambique a regressar o "herói civil", já que do regresso dos "heróis militares", outras tarefas mais "messiânicas" se esperava a nível político interno, especialmente de Mouzinho de Albuquerque, como se verá.

A curiosidade sobre Enes reside no facto de já em 1870 ter defendido uns Estados Unidos da Europa, temendo que Portugal fosse absorvido pela vizinha Espanha

(resumo dum artigo da autoria de Aniceto Afonso)

domingo, 19 de agosto de 2007

Internacional Socialista-Londres (1897)

No ano seguinte à morte de Engels realizou-se em Londres um congresso da Internacional Socialista, que vem consolidar por proposta de Liebknecht a expulsão dos anarquistas das fileiras daquela organização, consolidando o marxismo como principal força política no interior do movimento operário europeu.

Esta resolução acentua o que se vinha esboçando desde o Congresso de Zurique, realizado 3 anos antes e que havia determinado a táctica que exigisse aos seus aderentes uma posição mais clara diante da luta política, inclusive parlamentar que ia radicalmente contra os princípios dos anarquistas.

Nesse congresso disseram claramente que é necessário conquistar os poderes públicos para legislar e administrar a nova sociedade.

Resolução que excluía da Internacional as organizações que não fossem partidárias da acção política visando à conquista do poder político pelo proletariado.

Também ali é reconhecido o direito das nações à auto determinação, criticando os sociais-democrata das grandes potencias colonizadoras, que não defendam esse direito das colónias oprimidas pelos seus países.

Azedo Gneco representou o partido Socialista neste congresso de Londres. Genco era um operário e foi secretário geral do Partido Socialista em substituição de José Fontana. Não aderiu inteiramente às teses deste congresso, recusando aceitar que o problema da classe operária passasse pela substituição da Monarquia pela República, nem aderindo às teses marxistas.
Apenas no que à auto determinação das colónias era mais flexível preconizando algumas "melhorias" na situação dos povos coloniais.

Em 1897 haverá uma cisão dentro do Partido Socialista, quando Ernesto Silva e Teodoro Ribeiro pretenderam uma aliança com o Partido Republicano, tendo surgido uma aliança republicano-socialista.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Morte de João de Deus


Atendendo à informação disponível sobre João de Deus parece-me desnecessário, fazer resumos sobre a vida e obra deste poeta, parecendo mais importante assinalar blogues os fontes de informação que já estejam publicados na Internet e depois eventualmente, fazer alguns comentários.

Pare se obter o texto base desta entrada clicar aqui

João de Deus é o típico caso de vocação errada, que deveria ter escolhido letras em vez de direito.

Depois a incapacidade de ser pragmático, com certeza a razão de ser do poeta.

Qualquer ser "normal" tería governado a vida com as armas que tinha.

João de Deus não, vive na miséria, parece que chega a costurar roupa de senhora mas exercer direito, nem pensar.

Viver da poesia, talvez ainda hoje em Portugal, pareça não ser possível a menos que se case rico, como foi o caso.

A cartilha Maternal o método que criou para o ensina da leitura, haveria de o distinguir como pedagogo e uma nomeação com pensão vitalícia e uma condecoração a Ordem de Santiago e Espada.

Esse método de leitura terá sido seguido em Portugal, pelas minha contas cerca de 35/40 anos.

Gosto de recordar este poema de João de Deus, que ouvia com frequência dizer à minha mãe que o sabia de cor.

Dia de Anos

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!



terça-feira, 7 de agosto de 2007

As guerras de Pacificação em Moçambique


O tratado luso-britânico de 1891 havia proposto uma nova delimitação de fronteiras em Moçambique, mas as sucessivas revoltas de diversas etnias naquele território, que naturalmente e independentemente de não aceitarem ser colonizadas mas que por outro lado, queriam tirar partido de querelas territoriais sobretudo entre Portugal e os Britânicos, não facilitavam a vida a Portugal.

Em 14 de Outubro de 1894 grupos indígenas chegaram a sitiar e saquear Lourenço Marques que só não foi completamente destruída, graças à intervenção dos barcos de guerra portugueses fundeados no porto que dos seus navios bombardearam os atacantes, obrigando-os a retirar.

O comissário régio para Moçambique, António Enes tinha naturalmente como principal missão a pacificação daquele território.

A população portuguesa era diminuta e foi necessário reforçar o contingente armado com tropas enviadas de Portugal, em cerca de 3000 homens número avultado, para a época.

O contra-ataque aconteceu sob o comando de Caldas Xavier que obtém uma vitória de relevo em Marraquene a 2 de Fevereiro de 1895 e onde já participaram alguns vultos da história militar que iriam ter grande destaque, na guerra que seria conhecida como a da Pacificação dos nativos.

Essa vitória sobre os Landins, nas margens do rio Incomati, não acabou com a resistência desse grupo étnico, que continuaram combatendo na região, pelo que a campanha portuguesa continuou agora sob o comando de Freire de Andrade e Paiva Couceiro.

Nova batalha em Magul a 8 de Setembro de 1895 que aumentou o prestígio militar português, pois faça-se ideia do que teria sido por-se a circular a notícia que o celebre quadrado militar português com apenas 320 homens, havia de derrotar cerca de 6000 nativos.

Uma vez derrotados os Landins, havia que dominar os Vátuas do poderoso Gungunhana, que contava com milhares de guerreiros. Novas vitórias aconteceram sempre o número desproporcionado das forças em combate elevavam o grau de heroicidade nacional ,muito embora o governador Enes reconhecesse que tinham sido "rápidos duelos entre o moderno armamento europeu e a força bruta do número".

O epílogo na guerra contra os Vátuas, aconteceu em Chaimite em 27 de Dezembro de 1895 quando Mouzinho de Albuquerque aprisionou o régulo Gungunhana, num episódio por demais conhecido em que para o humilhar mandou o poderoso régulo sentar-se no chão, levando-o preso para Lourenço Marques e mais tarde para Lisboa

A 4 de Abril de 1953 foi estreado no Monumental, em Lisboa, o filme Chaimite, rodado em Moçambique, do realizador Jorge Brum do Canto.

Lembro-me de ter visto este filme em miúdo e da resposta de Gungunhana à ordem de Mouzinho de Albuquerque para se sentar, disse "Está sujo".

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

1895-Um ano de governo em Ditadura

Sempre foi mais fácil governar em ditadura, afastado o “incómodo” da Assembleia, o governo tratou de elaborar um conjunto de reformas, cujo significado político se pode resumir à “simplificação” da vida política, ou melhor ao reforço do poder do governo.

Procederam a algumas alterações no Código Administrativo e da própria lei eleitoral, que remeteram desde logo as futuras eleições para o fim de 1895 e a própria carta Constitucional, que também virá a ser alterada em Setembro.

A alteração da lei eleitoral, tinha por objectivo retirar a representatividade das forças políticas minoritárias que havia sido promulgado na lei eleitoral de 1884.

Um conjunto de medidas cujo alvo principal era o Partido Republicano, que tinha a sua principal força eleitoral em Lisboa e Porto, consequentemente ao retirarem a esses dois círculos o destaque que tinham anteriormente, englobando-os nos restantes distritos, era uma medida fundamental, para conseguir esse objectivo.

Se por um lado se alargava a quota eleitoral ao permitir o voto a maiores de 21 anos com renda anual mínima de 500 réis, cerca de metade do exigido anteriormente, retirava a capacidade electiva aos chefes de família, como condição suficiente, que teria permitido anteriormente a influentes republicanos inscrever gente pobre e analfabeta nos recenseamentos eleitorais, o que agora iria ser retirado.

Também se alterou o estatuto eleitoral dos funcionários públicos, estabelecendo-se um “numerus clausus” que sob a alegação da monopolização da representação parlamentar, se justificava para alguns saneamentos, utilizando esse truque da incompatibilidade.

Contudo a aparente facilidade que decorria neste ano de 1895, governado em ditadura pelo partido Regenerador, não vivia internamente em bom clima, devido ás relações tensas já anteriormente focadas entre Hintze e João Franco.

Sobretudo pelo incerteza que este último tinha sobre o afecto de D.Carlos, a dúvida persistia se em caso de necessidade de opção real entre os dois D.Carlos optaria por si.

João Franco era um manobrador, um homem ambicioso, que se movia na sombra, o seu ódio por Hintze, não deixava de estar sempre presente nas suas atitudes. Em Setembro deste ano, conjuntamente com Carlos Lobo Ávila, o “Carlotinha”, procuravam um “velho decorativo”, para substituir Hintze Ribeiro, baseados na importância da influência desse tal “Carlotinha”, junto do Rei.

Entretanto Carlos Lobo Ávila morre antes de terem conseguido encontrar a solução que procuravam.

Assim aconteceram as eleições em 17 de Novembro de 1895, que não contaram com a presença das forças da oposição, em resposta à publicação da referida lei eleitoral de 28 de Março.

A câmara eleita foi então constituída apenas por partidários do governo Regenerador, estava reconstituído o Solar dos Barrigas

terça-feira, 31 de julho de 2007

Florbela Espanca-nascimento


Foi em Vila Viçosa do Alentejo que nasceu em 8 de Dezembro de 1894, pouco tempo depois da suspensão da Assembleia dos Deputados referida na entrada anterior.

Filha de pai incógnito, expressão infelizmente usual em Portugal até 1974, foi lhe posto o nome de Flor Bela de Alma da Conceição.

Na literatura portuguesa será chamada Florbela Espanca, por mais tarde se ter revelado o apelido de seu pai.


Precoce já fazia poemas e ainda dava erros de ortografia, virá mais tarde cursar Direito em Lisboa.

Casa por 3 vezes mas a infelicidade latente em toda a sua poesia e o seu exacerbado egocentrismo, levam-na ao suicídio precisamente no dia em completaria 36 anos.
Mais do que o relato biográfico da vida de Florbela Espanca,que pode ser acompanhado em

http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm

interessa-me referir os dois poemas que mais gostei

A nossa casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!

Onde está ela, Amor, que não a vejo?

Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?

O brando ninho aonde o nosso beijo

Será mais puro e doce que uma asa?


Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,

Andamos de mãos dadas, nos caminhos

Duma terra de rosas, num jardim,


Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti

E tu, ó meu Amor, dentro de mim...


e


Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,

E me prendesses toda nos teus braços...


Quando me lembra: esse sabor que tinha

A tua boca... o eco dos teus passos...

O teu riso de fonte... os teus abraços...

Os teus beijos... a tua mão na minha...


Se tu viesses quando, linda e louca,

Traça as linhas dulcíssimas dum beijo

E é de seda vermelha e canta e ri


E é como um cravo ao sol a minha boca...

Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Acompanho este poemas por Liebestraume de Liszt, que Florbela não deixaria de ter escutado também.

Aproveito para lembrar um disco em vinil, gravado pela Eunice Muñoz, só com poemas de Florbela Espanca e acompanhada ao piano.


Que pena eu tenho de não ter esse disco comigo e de não ter sido tanto quanto eu saiba reeditado em CD.


segunda-feira, 30 de julho de 2007

No preâmbulo do governo em ditadura

A reabertura das cortes em Outubro de 1894 não correram nada bem, gerou-se uma grande confusão, muito embora as eleições de 15 de Abril tivessem determinado a reeleição da quase totalidade da anterior assembleia, menos uns 10 nomes.A oposição deu-lhe o nome do solar dos barrigas e o governo de ser o partido dos empregados públicos.

A guerra instalada entre os partidários de Hintze e Franco e a distribuição dos tachos fez com que nem se chegasse a perceber quem queria mais romper com a "saúde" da Assembleia.

Aconteceu então que em 28 de Novembro de 1894 a assembleia foi suspensa acabando por ser de novo dissolvida em 28 de Março de 1895.

Portanto desde Novembro de 1894 governou-se em regime de ditadura, apesar da oposição organizar grandes comícios de protesto.

A ditadura invoca a circunstância de governar contra os intriguistas e contra a política burocrática (João Franco). O conde de Ficalho dizia então que quem deve governar é quem paga,tudo o mais são histórias .

Ramalho Ortigão, considerava então que da eleição popular não sai nunca para o Governo aquele que mais sabe, mas sim aquele que mais intriga.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

As eleições na monarquia constitucional

Em 1908 António Feijó disse "no nosso país, a nação são os partidos, fora deles não há senão ignorantes e analfabetos. Era a constatação dum facto, que sublinhava a ignorância e o analfabetismo que grassava por todo o País e que se iria manter fortemente implantado, pelo menos mais 60 anos.

Não podia dizer-se que o eleitorado português fosse pequeno em termos europeus, em 1886 rondava os 900 mil eleitores , 75% homens com mais de 21 anos.

O sistema eleitoral clássico do voto individual dentro da urna dobrado para garantir a "confidencialidade" da sua opção, parecia corresponder aos requisitos democráticos necessários para que o sistema eleitoral assim fosse considerado.

Parecia que assim era, mas a realidade era outra, os votos eram em grupo, funcionavam em igrejas e por grupos organizados por pessoas "influentes" locais, que forneciam os votos que até seriam facilmente identificáveis pelo tipo de papel.

Os condicionalismo existentes para poder ser eleito deputado, para além de ser restritivo apenas a pessoas do sexo masculino também limitava o número de pessoas que podiam ser eleitas deputados pois deveriam ter uma renda anual mínima de 400$00 réis, o que para o tempo era uma soma considerável.

Estimam-se em 10% o número de pessoas ilegíveis para a Câmara de Deputados e que eram numero suficiente, para espalhados pelo País controlarem o voto dos outros 90%.

Claro que eram principalmente os caciques dos Partidos Regenerador e Progressista, que lutavam do terreno pela influência junto dos eleitores, utilizando complexas redes de compadrios políticos.

A troca de favores era a que se podia adivinhar, pelo que a nomeação para o governo, era fundamental para se poder retribuir a influência manifestada durante o processo eleitoral.

Esta a razão porque havia grande envolvimento desses influentes políticos, era muito interessante a contrapartida pós eleitoral, segundo Rui Ramos na biografia de D.Carlos, por exemplo em Évora na década de 1850, 53% dos homens mais ricos exerciam cargos públicos.

Assim o que realmente contava em período eleitoral não era a disputa de ideias ou de programas, mas sim o acordo entre os dois partidos principais, assentes no principio da alternância entre a "conservação" e o "progresso", ou seja entre Regeneradores e Progressistas, sendo o Rei garante que a oposição devia ser moderada, e o partido momentaneamente no poder não poderia abusar dessa posição para prosseguir o outro.

Acima deste acordo havia pois o Rei, cujas prerrogativas constitucionais davam a possibilidade de desempenhar um papel fundamental em todas as fases da vida política, nas eleições, na formação dos governos e na sua direcção.

O momento mais importante das eleições não era o voto, mas a decisão do Rei em as convocar, pois consistiam na oportunidade do governo por si nomeado e da sua confiança em obter uma nova maioria. Convém não esquecer que o facto de se estar no poder é que dava votos, porque era o poder que dava cargos e os cargos que influenciavam os resultados.

O partido na oposição nunca esperava ganhar as eleições, só esperava poder negociar com o governo a constituição dum grupo parlamentar condigno.

A subida ao poder dum partido era independente dos resultados eleitorais, apenas dependia da vontade do Rei.

Era assim a farsa eleitoral naquele tempo, que presumivelmente em toda a Europa só em Portugal e em Espanha acontecia.O negócio eleitoral substituía a disputa eleitoral democrática.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Novas eleições parlamentares-1894

Dizia-se que as deliberações do governo sem o voto de João Franco eram nulas,o que minava a confiança no sucesso do governo, acrescido pela adversidade entre Franco e Hintze.

Os primeiro tempos da governação foram consumidos nas negociações com os comités de credores externos, acabando por encontrar uma forma de acordo com a Lei de 19 de Maio de 1893. Afinal o governo de Dias Ferreira havia reduzido o ´défice para "apenas" 4.000 contos.

A solução encontrada pelas Finanças, foi ao usual aumento de impostos sobre a Industria e o Comércio o que motivou o natural protesto das associações de classe, levando o governo a recuar, por temer em especial a efervescência nos distritos do norte.

Não foi por certo por Fuschini, ministro da Fazenda , ter visto as suas propostas de aumento da Contribuição Industrial sido recusadas, que aconteceram eleições para o Parlamento que confirmaram o apoio ao Partido Regenerador no governo, onde os Republicanos apenas elegeram 3 deputados. Não obstante D.Carlos decide dissolver o Parlamento, marcando novas eleições para o dia 7 de Março de 1894, posteriormente adiadas para o dia 15 de Abril.

A teia de intrigas e compadrios que fazia parte do complexo sistema político, era excessivamente complicada, para não falar dos próprios meandros do processo eleitoral, muito diferente do que podemos conceber nos nossos dias. Aquilo que hoje se poderia catalogar como caciquismo, é uma brincadeira de crianças comparado com o processo eleitoral desse tempo.

As eleições era o reflexo de meros acordos,nesta altura negociado perfeitamente ao centro, entre Regeneradores e Progressistas, que para o efeito se consideravam Monárquicos coligados a esse nível de interesse contra Republicanos e outras formações mais à esquerda, dai que não possa surpreender que a grande remodelação acontecida após esse período eleitoral tenha sido a substituição de Augusto Fuschini e a sua Liga Liberal do elenco governativo, ao qual nunca mais voltaria.

Afinal um dos amigos mais íntimos del-rei, não havia resistido á voragem das querelas partidárias.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Hintze Ribeiro chefia o 5ºGoverno

A demissão do governo de Dias Ferreira, significou o fim das soluções extra partidárias tentadas por D.Carlos I, voltado a designar governos de cariz partidário, neste caso procurou solução no âmbito do partido Regenerador.

Naturalmente o nome indicado seria o de Serpa Pimentel, mas o convite é dirigido a Hintze Ribeiro para a chefia do governo,que se iria encarregar igualmente da pasta dos Estrangeiros, enquanto para a importante pasta do Reino surgia o nome de João Franco.

Homens diferentes, Hintze açoriano e Franco beirão, caracterizado pelo sotaque que fazia as delicias da imprensa da oposição chamando-lhe o XOÂO.

Ambos bacharéis em direito pela Universidade de Coimbra, singraram rapidamente na política.

Ribeiro, mais velho 6 anos, sóbrio e grave era inexcedível em colocar um problema, metódico e claro. Franco, um grande orador, eloquente e de discurso fácil.
Finalmente, diga-se que as suas relações eram más, nem se falavam.

Aparentemente, João Franco, parecia á partida melhor colocado, para a chefia de um novo governo regenerador, por força da sua melhor colocação, junto da corte de influência do rei, onde pontificava a figura de Carlos Ávila (o Carlotinha) filho do conde de Valbom, um dos mais célebres lideres da esquerda portuguesa.

A razão porque D.Carlos preferia um governo Regenerador era porque, era esse partido que detinha a maioria no parlamento, muito embora Serpa Pimentel lhes não tivesse autoridade, enquanto líder do partido, daí com certeza a motivação de D.Carlos em convidar alguém que fosse minimamente credível no parlamento.

Segundo Rui Ramos António de Serpa Pimentel, terá amuado, por ter sido marginalizado, tentando negar ao governo a qualidade de Regenerador.

Para o professor Adelino Maltez, o rei terá convidado Serpa Pimentel e este é que terá recusado, por ser na altura administrador da companhia dos Caminhos de Ferro do Norte e Leste.

De qualquer forma o governo criado, não foi um governo Regenerador, foi mais uma vez um governo que se pretendia de compromisso, englobando antigos Regeneradores e também antigos Progressistas.

Augusto Fuschini,(Finanças) e Bernardino Machado(Obras públicas), maçons e com credenciais esquerdistas.
Neves Ferreira(Ultramar e Marinha) antigo governador de Moçambique
Completavam o leque governamental Pimentel Pinto(Guerra) e António Castelo Branco (Justiça), sobrinho de Camilo Castelo Branco.

Assim foi criado a 23 de Fevereiro de 1893 o 5º governo de D.Carlos I




quarta-feira, 11 de julho de 2007

Heliodoro Salgado-Teórico do livre-pensamento


Assim titula Amadeu Carvalho Homem um texto sobre Heliodoro Salgado, um nortenho nascido no concelho de Santo Tirso, que começou a sua carreira profissional pelo magistério primário, mas que cedo trocaria pela de jornalista, com colaboração em vários títulos.

Envolveu-se em diversas querelas por força dos artigos que publicava, valendo-lhe pelo menos em 2 ocasiões a penas de prisão.
A questão religiosa era nuclear no seu pensamento, exprimindo-se com ideias como :
  • a origem das ideias, têm origem nas sensações, que só nos referem o mundo material; logo não temos a mínima ideia do que serão substâncias espirituais.
  • declarando guerra a todas as todas as religiões em nome do livre-pensamento
  • associando todas as religiões , primeiramente com o despotismo teocrático, por suprimirem no homem a independência da razão e depois com a contestação política, natural no seu tempo, onde a influência católica se confundia com os princípios políticos.
Membro do Partido Republicano, praticamente desde o início, deu o seu contributo para a laicismo do republicanismo, essencial no seu ideário.Dificilmente haveria melhor teorização desses princípios laicos, do que o seu materialismo ateu exprimia.

Maçon, como não poderia deixar de ser, viria a falecer em Lisboa em 1906, correndo o boato que teria sido vitima duma verdadeira cabala clerical, transformou o seu enterro numa enorme manifestação popular.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Governo de Dias Ferreira-Janeiro de 1892


Este governo chefiado por Dias Ferreira, (bisavô de Manuela Ferreira Leite, que foi ministra das Finanças do governo de Durão Barroso), foi o governo da história recente da monarquia constitucional, que sujeitou o País a políticas mais violentas.

O governo foi apresentado a 18 de Janeiro de 1892 e logo a 30 desse mês Oliveira Martins, apresenta ao país "a extensão das nossas amarguras", equivalente a um défice de 10.000 contos, equivalente a 25% das receitas e uma dívida de 23.000 contos.
Para evitar a bancarrota, fora propostas algumas medidas
  • lançamento duma taxa entre 5 a 20%, sobre ordenados, soldos e pensões
  • dedução de 30% nos juros de dívida pública interna
  • adicionais de 10 a 20%, à contribuição pessoal, sumptuária, rendas de casa e industrias
  • corte em todas as despesas supérfluas de serviço público, como por exemplo o subsídio ao teatro S.Carlos
  • suspensão indefinidamente das admissões na função pública
  • estabelecer um acordo com os credores externos, para renegociar a dívida.
Também o rei, se solidarizou com a nação, cedendo 20% das suas despesas a inserir no orçamento, chegando mesmo a propor, uma nova fonte de receita, aos seus ministros, a instituição de um "bilhete de identidade"de apresentação obrigatória, pelos cidadãos em todos os actos públicos, contas por alto feitas por ele e a 100 réis cada bilhete, poderia render ao Estado cerca de 1000 contos num ano.

O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice , excluindo da venda apenas Angola e a Índia.


Havia algumas ideias, muito embora estas não tivessem seguimento, a miséria grassava no país e tornava-se necessário tomar medidas.

Com estas propostas Oliveira Martins também pretendia intimidar os partidos no parlamento, por forma a obter alguma acalmia política.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

A escolha de Oliveira Martins

(Oliveira Martins)

Perante a demissão de Mariano de Carvalho, as particularidades da vida política portuguesa vêm de novo ao de cima. O rei convidou Oliveira Martins, para assumir a pasta da Fazenda. Não era a primeira vez que D.Carlos, convidava este engenheiro militar para essa função, que anteriormente recusara.

A proximidade com o rei e a promessa expressa por este de ser aberto um rigoroso inquérito sobre as questões da Companhia dos Caminhos-de-Ferro, levaram-no a aceitar não sem antes ter "exigido" a entrada no governo de "outra pessoa".

Tratava-se de José Dias Ferreira que Oliveira Martins queria para chefe do governo, contra a vontade do rei, que queria uma personalidade Regeneradora, como o conde de Valbom, que por certo manteria os ministros anteriores, pertencentes aquele partido.

Como membro do partido socialista era exactamente isso que Oliveira Martins, não queria,além de precisar duma pessoa que soubesse cativar os descontentes e os radicais, para resistir aos grupos partidários mais poderosos.

O prestígio de Oliveira Martins, independentemente das sua qualidade enquanto, engenheiro responsável pela construção de caminhos-de-ferro, advinha dos seus livros sobre aspectos históricos da vida portuguesa e ibérica.

Já em 1886, eleito deputado por Viana do Castelo e chamado Luciano de Castro a formar governo, não entrará no governo progressista porque as Finanças (a «Fazenda») são dadas a Mariano de Carvalho e ele recusa as Obras Públicas.

José Dias Ferreira, era deputado pelo círculo de Aveiro, eleito pelo seu prestígio pessoal.embora o partido Constituinte que havia fundado já não existisse. Professor da Universidade de Coimbra, um dos advogados mais ricos do País e grão-mestre da Grande Loja dos Maçons Antigos , era aos 55 anos o homem indicado segundo Oliveira Martins.

Face a essa situação, o rei D. Carlos , resolveu chamá-lo a formar governo

O convite foi aceite e esta solução extra-partidária e de iniciativa real ficou conhecida como o governo da acalmação partidária .

Aparentemente os papéis estavam invertidos, não foi o chefe do governo a escolher ministros, foi um ministro que escolheu o seu chefe.

Mais uma vez, tudo passava pelo rei, mas ele não podia, ou evitava, impor a sua vontade. Os políticos negociavam através do rei, mas não se lhe submetiam.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Agravamento da situação financeira

A melhoria da situação financeira do País em que Mariano de Carvalho, ministro da Fazenda apostava não acontecia, pelo contrário não parava de se degradar, dizia ele "restabeleça-se amanhã o câmbio do Brasil e a nossa situação económica evidentemente melhorará".

Em vez de melhorar o câmbio brasileiro piorou, arrastando a desvalorização da nossa moeda, rapidamente a cotação da libra triplicou, agravando enormemente o deficit orçamental.

Dificuldades em honrar os compromissos da dívida publica e em socorrer alguns bancos, companhias ferroviárias e coloniais que se encontravam à beira da falência, são evidentes.

A baixa das exportações dos produtos agrícolas e a elevação dos compromissos externos do Estado e das empresas privadas, bem como o crescimento das importações, compunham o quadro negro da degradação financeira.

Embora não se tivesse chegado à situação de bancarrota, o público reagiu activamente, obviamente instigado pela oposição, correndo em massa aos depósitos bancários e à conversão das notas.

O Banco de Portugal ficou sem reservas e os outros Bancos acabaram por suspender os pagamentos, que levou o Governo a impor o curso forçado das notas, que haviam no decorrer deste ano de 1891 desvalorizado em mais de 10%.

Pior que tudo isto é a doença de Lopo Vaz, a sua diabetes foi acolhida no meio político como uma verdadeira calamidade, levando ao desentendimento entre ministérios, tal a sua influência.

João Crisóstomo contudo desconfia que para além da doença , preparam-se os amigos de Lopo Vaz, para a coberto da crise instalada, avançar para um solução de remodelação exclusivamente Regeneradora.

Os apoios da Fazenda, a empresas privadas, em especial a Companhia dos Caminhos de Ferro, são o mote, para a queda de Mariano de Carvalho na remodelação que se irá seguir.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Acontecimentos no ano de 1891(V)


Nascido em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842, suicida-se na sua terra natal 49 anos depois, a 11 de Setembro, Antero de Quental, representante duma geração, que a partir de 60 e até ai final do século XIX, desempenhou papel decisivo no debate de ideias em Portugal.

Um constante deambular inquieto, entre a sua terra , Lisboa e Coimbra onde viria a formar-se em Direito com 22 anos e onde publica os seus primeiros versos, muito embora sejam conhecidos versos por si escritos ainda criança.

Ali se manifestou o seu espírito rebelde pois participa na fundação da Sociedade do Raio, uma sociedade secreta que se caracteriza por lançar desafios blasfemos a Deus durante a ocorrência de trovoadas.


(No Palácio de Cristal, no Porto, encontra-se com Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão. Tiram a fotografia do «grupo dos cinco»)


As conferencias democráticas do Casino Lisbonense, que foram inauguradas em 1871, tiveram a sua participação juntamente com Teófilo Braga,Eça de Queirós,Manuel de Arriaga,Batalha Reis,Oliveira Martins, José Fontana entre outros, que pretendiam agitar a opinião pública para o debate das grandes correntes filosóficas, literárias políticas emergentes na Europa e que viriam a ser proibidas, algum tempo depois.

Foi o principal actor da polémica que ficou conhecida como a Questão Coimbrã ou do Bom Senso e do Bom Gosto, que opôs o grupo de Coimbra integrando alguns dos nomes acima citados, e o grupo de Castilho, constituído por João de Lemos,Pinheiro Chagas, Bulhão Pato e outros.

Em 1874 adoece gravemente, "com uma doença nervosa de que nunca mais pude restabelecer-me completamente. A forçada inacção, a perspectiva da morte vizinha, a ruína de muitos projectos ambiciosos e uma certa acuidade de sentimentos, própria da nevrose, puseram-me novamente e mais imperiosamente do que nunca, em face do grande problema da existência. A minha antiga vida pareceu-me vã e a existência em geral incompreensível", escreve numa carta a um amigo.

Nesse dia 11 de Setembro de 1891, suicida-se no jardim de S.Gonçalo, perto de sua casa, nos arredores de Ponta Delgada, com 2 tiros de revólver, morrendo após uma hora de agonia.

Descansa-se!... se no tédio doloroso de nós mesmos encontramos a força para nos sumirmos, disse Antero a Oliveira Martins e a Vasconcelos Abreu, poucos dias antes de partir de Lisboa para Ponta Delgada. No seu doloroso tédio, Antero de Quental encontra a força e o alento para fugir, para se sumir, para descansar enfim.

  • Outubro,08-Criação em Lisboa do primeiro Hospital Veterinário.

Este hospital destinava-se a uma dupla função, por um lado banco e enfermaria, ao mesmo tempo que local de ensino.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Novo tratado com a Inglaterra-Maio 1891

Em 28 de Maio de 1891, foi celebrado um novo tratado entre Portugal e a Inglaterra, que substituirá o acordo assinado no ano anterior.

Mais gravoso ainda para Portugal que o anterior, pois o governo português reconhecia uma nova fronteira em Manica, perdendo zonas mineiras ricas, em troca de possessões inglesas de menor interesse económico.

Portugal prometia construir um caminho-de-ferro da Beira em Moçambique até à fronteira da Rodésia, actual Zimbabwe.

Dada a alegada necessidade vital da saída para o mar manifestada pelos ingleses, terá sido essa uma questão que tornou muito polémica a assinatura do referido acordo, naturalmente quer ficaria para segundo plano a avaliação do interesse nacional no desenvolvimento da região da Beira, um porto de mar com a importância estratégica daquele.

O tratado é bastante contestado em Lisboa por ser considerado mais gravoso para Portugal do que o anteriormente assinado em 20 de Agosto de 1890.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Demissão e nomeação de João Crisóstomo-1891


(Lopo Vaz de Sampaio e Melo)

Perante o agravamento da crise financeira o governo de João Crisóstomo apresenta a sua demissão.

Como habitualmente o rei, consulta por escrito José Luciano dos Progressistas e António de Serpa do Partido Regenerador, para além de Lopo Vaz, militante Progressista da chamada Unha Negra a ala esquerda desse partido, com quem El-rei habitualmente se correspondia.


A distribuição de forças políticas mantinha-se inalterável. com maioria Regeneradora na Assembleia, muito embora o governo agora demitido tivesse uma maioria de pastas atribuídas a membros do Partido Progressista.


Os principais partidos não queriam novas eleições, os Regeneradores tinham a maioria, os Progressistas sabiam que novas eleições, podiam alterar toda a situação e ambos tinham medo, do que poderia acontecer com uma maioria do partido Republicano, que todos temiam.


D.Carlos assumiu então a tarefa de organizar um novo governo, chegando a elaborar um novo elenco ministerial, chamando o visconde de São Januário, para o chefiar.


Este bem depressa deixou claro que para ele não bastava a nomeação régia, precisava da bênção dos partidos políticos.
Um dos nomes ministeriáveis para D.Carlos era o de Lopo Vaz, que por sua vez impunha como condição também a entrada de Mariano de Carvalho, outro radical, mas bem relacionado nos meios empresariais e que dizia ter planos financeiros para salvar o Estado.

Assim de imediato de esfumou a hipótese São Januário.
Mariano de Carvalho era uma personalidade um pouco controversa, oscilando entre o Partido Progressista e Regenerador, era porém muito popular em Lisboa, colocando desde logo como condição para entrar no governo a "comutação das penas dos do Porto", aludindo aos revoltosos de 31 de Janeiro.

O rei mostrava-se intransigente com o nome de Mariano de Carvalho e Lopo desistiu.

Colocada então a hipótese de novo governo de António de Serpa, que propunha uma solução exclusivamente Regeneradora, embora admitisse chamar alguns progressistas "honestos".
Lopo Vaz volta a jogar no escuro e convence João Franco, um dos nomes escolhidos por Serpa, a exigir também a entrada de Mariano de Carvalho, o que naturalmente desagradou a António de Serpa.

Finalmente a 21 de Maio de 1891, conseguiram que João Crisóstomo aceitasse ser reconduzido,num governo com Lopo Vaz no Ministério do Reino e Mariano no da Fazenda.

Lopo não se conteve terá dito "comi o Serpa e o José Luciano", mas na verdade também havia apanhado o rei.
O novo governo ficou então assim constituído
  • Lopo Vaz de Sampaio e Melo substitui António Cândido no reino e passa a exercer a pasta de ministro da instrução pública, então restaurada.
  • Alberto António de Morais de Carvalho substitui António Emílio Correia de Sá Brandão na Justiça.
  • Mariano de Carvalho substitui Augusto José da Cunha na Fazenda.
  • Júlio de Vilhena substitui António Enes na Marinha e Ultramar.
  • Conde de Valbom substitui José Vicente Barbosa do Bocage nos Estrangeiros.
  • João Franco substitui Tomás Ribeiro nas Obras Públicas

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Encíclica Rerum Novarum-Papa Leão XIII


(Leão XIII)

Foi publicada em 15 de Maio de 1891, período em que o liberalismo dominava o cenário económico do mundo. Nessa época, o salário dos trabalhadores era determinado de acordo com as leis do mercado, o Estado não intervinha na economia, os sindicatos eram proibidos em alguns países e as riquezas acumulavam-se nas mãos de poucos tendo por consequência até mesmo, um processo de desintegração dos laços familiares.

Nessa Encíclica, a Igreja sustenta a ideia de que é necessário auxiliar os trabalhadores que estão, em sua maioria, entregues à mercê de seus senhores ávidos de ganância e insaciável ambição.Segundo Leão XIII, os patrões possuem alguns deveres para com os operários como: não trata-los como escravos e principalmente dar um salário que lhes convém.

A questão do tempo de trabalho dos empregados é discutida e são estabelecidos limites à exploração da mão de obra.

As relações de trabalho devem ser baseadas na justiça. Deveriam ser também observadas os diferentes tipos de trabalhadores, pois existem certos trabalhos que não são teoricamente próprios de uma mulher ou criança. Deve-se iniciar a trabalhar, quando a pessoa tiver desenvolvido forças físicas, intelectuais e morais.

Em relação aos salários, o Papa afirma que este deve ser fruto de um acordo entre patrão e operário, sendo dessa maneira suficiente, de acordo com uma lei de justiça natural, para assegurar a subsistência do empregado (caso o contrário ele deve recorrer às corporações ou sindicatos para pedir auxílio).

Mesmo condenando o socialismo, a Igreja incentivou a união dos trabalhadores através da formação de corporações e mais, também apoia a integração destes com os seus patrões por meio de todas as obras capazes de aliviar eficazmente a indigência e de operar uma aproximação entre as duas classes. Defende também que ao Estado deve permitir que as sociedades particulares coexistam com a sociedade civil e que se abstenha de interferir na administração das organizações católicas.

Esta encíclica lançou as bases do que viria a ser mais tarde chamado doutrina social da Igreja.
Contudo não foi por certo esta encíclica que orientou a publicação de decretos Lei , que defendiam diversos direitos e deveres, obviamente, dos trabalhadores, por alguns deles aconteceram antes da data da publicação do documento papal, que de certo modo apenas como que os ratificou.

A força do movimento operário que desde o seu primeiro congresso em 1885 começava a despontar e a decadência do sistema constitucional monárquico , são as razões mais próximas para a publicação dos seguintes decretos-Lei
  • 23 de Março de 1891-Lei que aprova o contrato de trabalho de 25 de Fevereiro, garantido a jornada de 8 horas e fixando uma tarifa de salários mínimos
  • 14 de Abril de 1891-Decreto que regulamenta o trabalho de mulheres e menores nas industrias, condicionando a duração da jornada de trabalho, o repouso semanal, a higiene e segurança nos estabelecimentos industriais que empregavam trabalhadores menores.
  • 9 de Maio de 1891-Autorização de formação de associações operárias, embora com muitas limitações e proibições como por exemplo a do sua representatividade nacional e submetendo a aprovação dos seus dirigentes pelo governo.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

31 de Janeiro-as repercussões

As repercussões da revolta do 31 de Janeiro, foram à portuguesa, nada aconteceu de verdadeiramente significativo, toda a gente procurou diminuir a importância do acontecimento.

O governo a negociar um grande empréstimo externo, (como viria a acontecer, por financeiros franceses, alemães e portugueses, em troca do monopólio do tabaco), não lhe interessava transmitir a ideia dum país instável.

O directório do partido republicano apressou-se a condenar o golpe, como irresponsável. A maçonaria irradiou Alves da Veiga, o general Correia da Silva, que se oferecera para chefiar o movimento, mas que afinal pecou por ausência, foi punido com um mês de detenção.

Em Elias Garcia que fornecera os "fósforos", para atear a conspiração, ninguém tocou.

Haveria de sobrar para 600 soldados (bem à portuguesa) a acusação pelo golpe , que haveriam de vir a ser julgados a bordo de 3 barcos de guerra ancorados em Leixões, que provocaria, devido à ondulação, o enjoo dos juízes, que frequentemente se levantavam dos julgamentos para ir vomitar à amurada.

As sentenças foram encaradas, como simples pretextos para futuros perdões e amnistias, Perante o tribunal um dos detidos o capitão Leitão declarou logo "conto não cumprir a pena a que me condenarem"(segundo Rui Ramos em D.Carlos pag.75).

Aparentemente porém as condenações não foram assim tão leves, numa primeira análise.

Seriam condenadas a penas entre 15 anos e 18 meses de prisão mais de duzentas pessoas.

A publicação de «A República Portugueza» foi suspensa, transformando este vibrante diário de combate numa das primeiras vítimas daquele dia 31 de Janeiro de 1891.

João Chagas foi deportado para África, mas que viria a fugir para o Brasil. Sampaio Bruno partiu para o exílio, mas 2 anos de pois já estava de volta a Portugal.